“Por favor, não cobrem a Graça” – Por Dom Jaime Pedro Kohl
O terceiro domingo do mês vocacional é dedicado à Vida Religiosa Consagrada, uma fatia importante na vida da Igreja e que muito colaborou com o principal objetivo de sua existência: a evangelização. Qual país da América Latina não deve a ela os primeiros passos do cristianismo?
Trago a belíssima fala do Papa Francisco em sua recente visita no Equador, dirigindo-se a todos os vocacionados no santuário de Quinche.
Ele começa dizendo que sentiu algo diferente no povo equatoriano, uma piedade particular e atribui isso a devoção ao Sagrado Coração de Jesus.
Duas palavras de Maria: “Faça-se em mim” e“Façam o que Ele vos disser” manifestam o discipulado de Maria e o reconhecimento da gratuidade de Deus.Ele exorta os religiosos, religiosas, sacerdotes, seminaristas, a percorreresse caminho da pura gratuidade com a qual Deus os escolheu. Se esquecemos isso, lentamente vamos nos fazendo importantes.
Uma segunda coisa que eu gostaria de dizer-lhes é que cuidem da saúde, mas, acima de tudo, cuidem para não cair em uma doença perigosa para aqueles que o Senhor chamou gratuitamente a segui-Lo ou servi-Lo. Não caiam no Alzheimer espiritual, não percam a memória, especialmente, a memória de onde saíram.
A gratuidade é uma graça que não pode coexistir com a promoção pessoal. Quando um sacerdote, um seminarista, um religioso, uma freira, entra na carreira humana, começa a adoecer de Alzheimer espiritual. E começa a perder a memória de onde saiu. Todos os dias renovem o sentimento que tudo é graça. Ninguém está na vida consagrada por merecimento.
Duas graças a pedir, em primeiro lugar o serviço. Servir sempre, também quando as pessoas nos incomodam.Por favor, não cobrem a graça.Que a nossa pastoral seja gratuita.
E a segunda atitude que se vê num consagrado, consagrada, sacerdote que vive esta gratuidade é a memória.Gratuidade e memória, gozo e alegria são um dom de Jesus.
Aprendamos dele que se fez nada, se abaixou e humilhou,se fez pobre para enriquecer-nos com a sua pobreza.
Que o Senhor vos conceda esta graça,continue abençoando este povo equatoriano, ao qual vocês são chamados a servir, e continue abençoando com essa peculiaridade que notei desde que cheguei aqui: o amor gratuito.
Me parecem conselhos importantes eque não precisam de muitos comentários. É tão bom sentir-se a serviço e totalmente disponíveis a Deus, cientes de que, se somos o que somos, o somos por pura graça de Deus.
Dom Jaime Pedro Kohl – Bispo de Osório – domjaimep@terra.com.br