Pós-eleição – Jayme José de Oliveira
Bolsonaro venceu, poderia ser Haddad, os problemas a enfrentar seriam os mesmos, pois como disse certa vez Marco Maciel: “As consequências vem depois”. Tudo indica que vai ter terceiro turno. A esquerda não vai desaparecer. Pouco provável que o capitão e seus seguidores aceitassem pacificamente o PT, mais uma vez no poder. O terceiro turno já desponta na fímbria do horizonte, difícil saber quando e, principalmente, como vai terminar.
Luís Roberto Barroso, ministro do STF (Zero Hora – 24/10) já afirmara: “Quem ganha tem o direito de governar, mas também tem o dever de respeitar as regras do jogo. No país tem espaço para todos os projetos políticos, sejam eles liberaisprogressistas ou conservadores. Só não tem lugar para projetos desonestos e autoritários”.
Palavras sábias que, infelizmente, nas últimas décadas não foram observadas pelos governos que antecederam o que está prestes a iniciar. E não me atenho aos últimos, os problemas se sucedem desde muito tempo. Muito. Os resultados desastrosos também, como numa escalada de queda de peças de dominó, uma derrubando a seguinte até não restar nenhuma em pé.
CUMPRE DAR UM BASTA ENQUANTO PODEMOS. É VIÁVEL, SIM.
Cláudio Lamacchia, presidente da OAB (Correio do Povo – 25/10): “O segundo turno está registrado pela disputa da rejeição em que o medo e o ódio pautaram e quem primeiro perece é a moderação, sem a qual o diálogo, peça indispensável para a conciliação entre as partes aconteça. O Brasil precisa vencer os extremismos de esquerda e de direita para encontrar um novo consenso, capaz de reunificar a sociedade. Está em debate neste momento a vida das pessoas. Nossa democracia precisa de menos confronto e mais encontro”.Flávio Tavares, jornalista – ex-exilado político – (Zero Hora – 27/10): “A pergunta que mais ouço sobre a eleição presidencial é inquietante e aterradora – qual o mal menor? Já não buscamos o melhor caminho. Contentamo-nos em optar por quem menos machuque. Ou por quem odeie menos. E que seja sereno, respeite os direitos e a dignidade pessoal. E que assegure as liberdades, a começar pela liberdade de divergir e apontar erros”.
No decorrer da História a sucessão de conflitos perpassa gerações e é uma constante. Árabes e judeus se digladiam há milênios e não vislumbramos PAZ. Esse exemplo não pode ser seguido se quisermos que os nossos filhos e os filhos dos nossos filhos possam viver sem constantes sobressaltos.
Utopia? Nelson Mandela (1918-2013) foi líder do movimento contra o apartheid na África do Sulque segrega os negros do país. Condenado em 1964 à prisão perpétua com trabalhos forçados, foi libertado em 1990, depois de grande pressão internacional.
Após longas negociações conseguiu a realização de eleições multirraciais em abril de 1994. Seu partido saiu vitorioso e Mandela foi eleito presidente da África do Sul.
Qual a probabilidade de alguém que fora preso, torturado e submetido a trabalhos forçados durante 26 anos, ao alcançar o poder, em vez de retaliar empreender uma campanha de pacificação, desarmamento de espíritos,cooperação com os antigos algozes?
Mandela o fez, elegeu seu sucessor e transformou a África do Sul num país onde a convivência interracial se estabeleceu e vive num ambiente com um mínimo de conflitos.
Um exemplo edificante. Ao sair da prisão, velho, doente e alquebrado, pronunciou um discurso chamando o país para a reconciliação: “Eu lutei contra a dominação branca e lutei contra a dominação negra. Eu tenho prezado pelo ideal de uma sociedade democrática e livre na qual todas as pessoas possam viver juntas em harmonia e com iguais oportunidades. É um ideal pelo qual eu espero viver e que eu espero alcançar. Mas caso seja necessário é o ideal pelo qual eu estou pronto para morrer”.
Em 1993 Nelson Mandela e Frederik de Klerk eram agraciados com o Prêmio Nobel da Paz pelos seus esforços para acabar com o apartheid na África do Sul.
O sul-africano Frederik Willem de Klerk foi presidente da África do Sul (1989-1994) e responsável por tirar Mandela da prisão. Em 1994 Nelson Mandela se tornaria presidente da África do Sul com de Klerk como vice.
Pensem com isenção: por que no Brasil não poderemos fumar o “cachimbo da paz” como fizeram na África do Sul? Serão nossas divergências mais graves que as dos líderes que,se não esqueceram, impossível, deram início a uma era que beneficiou o país inteiro?
Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado