Prelúdio – Sergio Agra
PRELÚDIO
Capítulo I da série As Crônicas de Aleph
“Sabemos bem que toda a obra tem de ser imperfeita,
e que a menos insegura das nossas contemplações estéticas
será a daquilo que escrevemos”. —Fernado Pessoa.
Certo confrade de Aleph nos atrevimentos literários a que ambos amiúde incursionam criou site com suas reminiscências, o que vem a ser o mesmo que memórias, lembranças, rememorações, relembranças, anamneses, recordações.
Tal exemplar e focado atleta, cujo objetivo maior é a excelência de seu condicionamento físico — portanto, muito raramente alivia a pressão ou suspende sua treinagem —, quem detém a veleidade de se crer literato e postergar o regular ofício da escrita “enferruja”. Aleph — a quem conheço de data imemorável e, desde então, tornamo-nos muito mais que amigos, camaradas e leais confidentes, em que pese tenhamos por significativo espaço de tempo percorrido diferentes estradas — não se desfizera destes topetes e, como me havia prevenido, para não se “auto-oxidar”, decidira colocar em prática o lúdico exercício do escrever, tomando como mote o que a princípio ele próprio havia conjeturado fossem as suas reminiscências.
Não foi, entretanto, o que realmente ele constatara já em meio à escrita!
Ao perceber que — o que ele planejara ser um comezinho adestramento de redação — o exercício adquirira a força vulcânica e as circunstâncias de febril, delirante e imprevisíveis dimensões, valeu-se então do meu socorro. Assim, à medida que Aleph — sou testemunha disso — de forma apaixonada, não poucas vezes tresloucada e anárquica ante a efervescente comoção com que ele se entregara à narrativa, me confiava os calhamaços dos capítulos digitados, eu os compilava na ordem que julgara e entendera de relativa lógica e harmonia, emprestando, assim, ao texto fluidez e compreensão à sua leitura.
A realidade d’As Crônicas de Aleph, sim, é fundada na realidade objetiva, topográfica, geográfica, histórica, etc. do Autor. Porém, a transposição dessa realidade para As Crônicas obedece a leis internas do conto e, sobretudo, à imaginação criadora do Escritor. Assim, alguns lugares e pessoas que pertencem ao universo d’As Crônicas de Aleph não correspondem mecanicamente a pessoas e lugares da vida real.
Permite-te viajar aos confins da alma de Aleph. Depois, no teu julgamento, me dirás se fui injusto para com meu antigo camarada: o Aleph, que irás, a partir de agora, te propor conhecer.
Ou não…