Procuras
O encontro; Fascinação era a música em surdina ante a resplandecência dos cálices sob a luz das velas. Depois, o beijo. O primeiro. A entrega como ilação natural da atração dos corpos. A banheira recendia a alfazema e bolhas de espuma voluteavam sobre os corpos dos amantes, exauridos ante o ritual do amor sobre a alcova de penas de cisne, numa bucólica pousada às margens do Lago Zurique.
Ante a perda, recordações brotadas nas madrugadas de ronda, sem cena de sangue, na inútil procura do boteco infestado e mau-cheiroso; no amanhecer, a volta pra casa, abatido, desencantado…
No desfilar das remembranças, crônicas escritas à mesa de um outro bar, bebendo sempre e apenas o generoso cabernet, pensando na falta que um dia fizeste, entrevendo-te como nuvem efêmera, bailando, brejeira, sob o céu estrelado e ao som, não de mil pianos e violinos que desencadeassem a mais louca e apoteótica das sinfonias, mas de um violão plangente como música de fundo de uma outra estória.
Procuro a voz que me acalme e diga do desengano em sonhar com o eternal amor. Procuro o olhar que não se intimide e que se mantenha firme na afirmação de suas verdades. Procuro o regaço amante que acolha os segredos e as carências de toda uma relação destituída de qualquer sentido, onde teu orgulho e egoísmo se sobrepuseram à tua entrega incondicional. Procuro ouvidos que se proponham a escutar as histórias de quem sobreviveu às tiranias da mais louca paixão.
Procuro mãos que, sem qualquer pudor, me acariciem os cabelos, desenhem montanhas, rios, florestas e vales pelo corpo inteiro. Procuro o abraço em que os sentimentos, por verdadeiros, apaguem lembranças de teus abraços destituídos de emoção. Procuro a mulher que não se creia perfeita, mas busque na coerência o sentido dos seus atos; que reconheça as mágoas a que der causa, o egoísmo de sua tirania e, não obstante, saiba da capacidade que tem – basta, apenas, querer! – de se assumir como verdadeiramente é.
Procuro o elo perdido, o começo de tudo. Procuro o que não seja irreversível. Procuro um novo amanhecer, o ruído da chuva de encontro ao telhado, o cheiro de um café fumegante. Procuro o canto de um sabiá, o chamado de um filho no meio da noite. Procuro a Fé e o que restou da Caixa de Pandora. Procuro o abraço infinito. Procuro, desesperadamente, o beijo desesperado, o calor de um outro corpo que não o teu. Reprocuro a Fé. Procuro uma prova qualquer da existência de Deus.
Procuro… Eu procuro…