Quando até a cor verde-oliva do esmalte provoca baixaria – Sergio Agra
Em se tratando de plataformas, redes sociais e aplicativos, recursos que a tecnologia da computação consagrou para a comunicação global e para o deleitamento (?) do homem sou o próprio dinossauro; sim, aquele ser que habitou durante o período jurássico neste hoje combalido e terminal planetinha.
Desfruto apenas do WhatsApp e do Facebook— aos quais aderi um tanto tardiamente — e tão somente para publicar os frutos do vício que me consome. Sim, tal qual o drogadicto do crack ou da cocaína, sou um dependente emocional da literatura. Neste exato momento em que escrevo, estou “viajando” pelo mundo das ideias.
Voltemos às redes sociais: como referi, as utilizo unicamente para a publicação de crônicas, contos e alguns “perversos poemas e haicais satânicos”. Pois bem…
Na tumultuada quarta-feira, 19, o noticiário nacional se refestelou com a baixaria encenada na Comissão do Trabalho (hã???) da Câmara dos Deputados no bate-boca entre Eduardo Bolsonaro e DionilsoMarcon. Não bastasse isso, o “exocet”, o míssil lançado pela CNN na reportagem que vazou o vídeo onde o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Gonçalves Dias, e seus comandados, travestidos de áulicos cerimonialistas, pacífica e aparentemente coordenavam o “tour” pelo Palácio do Planalto dos golpistas patriotas.
Exatamente em 19 de abril, data em que se comemora o Dia do Exército!!!
Ao “zapear” pelo Facebook, eis que me deparo com a foto exibindo duas caprichosas mãos femininas e os dizeres:
— !Para homenagear o Dia do Exército o esmalte adequado somente poderia ser o verde-oliva!”.
Pra quê?
O tio da vetusta senhora (suas mãos indicavam isso) replicou em tom trocista à exagerada vaidade da sobrinha, assinalando que ao Exército nada havia para comemorar, sobretudo naquela explosiva quarta-feira. À debochada argumentação sobreveio tréplica raivosa. Esta ensejou furibunda quadrúplica a ponto de transformar o bate-boca de Eduardo Bolsonaro e Marcon em arrufos de alunos da pré-ecola.
Esta é a banda, o lado podre das redes sociais: a exposição pública e desmedida da vida íntima, particular, pessoal de cada um. Ao se ostentar faz-se eclodirem sentimentos outros que não os de compartilhamento das ideias.
Hoje, ao iniciar esta crônica, voltei ao perfil da referida senhora para sedimentar meu texto. Ela já o havia retirado (arrependida, vexada, sentindo-se humilhada?), não sem antes registrar seu epitáfio:
“O brilho de uma pessoa causa mais inveja do que os bens materiais”.
Não sei o porquê, lembrei-me de “A mulher e o Piolho”*.
*A Mulher e o Piolho – conto popular que nossas avós adoravam narrar.