Quem matou Paulo Francis? O coração e a razão? – Por Sergio Agra
Diferentemente da arrogância, jactância, petulância e do discurso com visíveis ranços da década de 1970 do ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Miguel Rossetto, Dilma Rousseff mostrou-se – pelo menos aparentemente – humilde e efetivamente suscetível às manifestações de domingo, 15 de abril. E, sejamos honestos, uma das frases expressadas pela presidente era insofismável: – “Corrupção não nasceu hoje!”.
Aos que ora contam mais de quarenta anos de idade –e, como perfil de brasileiros que somos – trazema memória curta –,muitos sequer sabem quem fora Franz Paul Trannin da Matta Heilborn, pseudônimo de Paulo Francis (1930-1997) um jornalista, crítico de literatura e arte, escritor brasileiro.
Paulo Francis envolveu-se com as ideias dos intelectuais de esquerda dos anos 60. Era simpatizante do movimento trotskista. O grande destaque da carreira de Francis como crítico foi no jornal O Pasquim, dos anos 60 aos 70.Em 1971, vai morar em Nova York, onde se tornou correspondente do Pasquim e da Folha de São Paulo.
A partir dos anos 80, Francis deu uma guinada ideológica à direita, criticando os políticos do PT, combatendo o governo Sarney e aderindo às ideias conservadoras e neoliberais.Atuou durante muito tempo como comentarista de cultura da TV Globo a partir da década de 80. Tornou-se comentarista do canal GNT no programa Manhattan Connection, nos anos 90.
Sua última polêmica – o que talvez tenha precipitado sua morte – foi quando acusou a Petrobrás, estatal brasileira, de manter 50 milhões de dólares em contas na Suíça através dos diretores da empresa.
Francis sofreu uma ação judicial proposta contra ele pelos diretores da Petrobras. Angustiado pelo questionamento judicial, Francis estava sob tal pressão que acabou sofrendo um enfarte. Morreu em fevereiro de 1996, em Nova York.
Os sete diretores da Petrobras, liderados pelo [então]presidente, Joel Rennó, decidiram cobrar reparação judicial pelo dano moral que alegaram ter sofrido. Durante o programa Manhattan Connection, Francis disse que “os diretores da Petrobras põem dinheiro na Suíça”; que “roubam em subfaturamento e superfaturamento”; e que constituem “a maior quadrilha que já atuou no Brasil”.
Ficou logo evidente que ele não tinha provas das afirmativas. Dissera aquilo por impulso, em função do papel que criou e desempenhava na televisão, sua contribuição para a originalidade do programa. Acusados sem provas, os diretores da Petrobras, em conjunto, foram à forra. Perceberam que o antagonista era fraco. Além do valor descabido atribuído à causa (para os padrões brasileiros), de 100 milhões de dólares, capricharam no maquiavelismo ao propor a ação em Nova York.
A justiça americana é receptiva a cobranças desse porte em função de alegado dano moral, ao contrário da justiça nacional.Francis pareceu ter entrado realmente em pânico. Sabendo-se desprovido de meios para provar o que afirmou com tanta ênfase, sabia também que perderia no final da demanda.
Esse final, contudo, jamais aconteceria nos Estados Unidos. Qualquer iniciado nas regras processuais sabia que o foro competente para examinar a causa seria o do Rio de Janeiro, sede da TV Globo, responsável pelo Manhattan Connection, exibido pelo canal pago Globo News.
Até hoje não se sabe qual a orientação dada pelos dois advogados que Francis contratou. Será que nenhum deles lhe assegurou o que acabou acontecendo, o arquivamento do processo, semanas depois da morte do jornalista, por inadequação do foro?
De algum lugarFranz Paul Trannin da Matta Heilborn, o Paulo Francis, há de estar se indagando se, efetivamente, agira somente com o coração?
E Dilma Rousseff, em seu pronunciamento, agiu com a razão por saber se fora verdade?
Sergio Agra
agraeagra@terra.com.br
Escritor – Autor dos livros “Mar da Serenidade”, O Corpo de Gioconda” e “Ryujin, o Dragão Mágico