Quem não comunica se trumbica – Sérgio Agra
QUEM NÃO COMUNICA SE TRUMBICA
Abelardo Barbosa, o Chacrinha, o Velho Guerreiro, considerado o maior comunicador de TV de todos os tempos, desde os anos 1970 martelou seu bordão— “Quem não se comunica se trumbica!” —que tem tudo a ver com a interação entre as pessoas conectadas e globalizadas de hoje.
Comunicar-se—e se comunicar bem!—sempre gerou transparência entre as pessoas nas suas interações, sejam elas sociais, comerciais, profissionais, de afetos e, sobretudo, nos vínculos pessoais de amizades, haja vista a predominante polarização político-ideológica, maior fator contribuinte dos desenlaces de amizades de décadas.
Michelle Bolsonaro, primeira-dama da República, é a grande incentivadora dos deficientes auditivos, através do seu apoio à implementação da linguagem de Libras nas comunicações oficiais do atual governo.Isso, sim, é inclusão!Agora, se Jair Bolsonaro na avaliação de cada brasileiro se comunica bem ou mal, se é objetivo ou “curto e grosso”—reconheçamos! —, o fato é que ele se comunica. E como comunica!
Por isso, assaltam-me a dúvida e a consequente indagação: — serei eu portador de dislexia, isto é, acometido por perturbação na aprendizagem da leitura pela dificuldade no reconhecimento da correspondência entre os símbolos gráficos e os fonemas, bem como na transformação de signos escritos em signos verbais?
Na publicação de meus textos acolho as críticas, os “comentários”, onde vislumbro, além das palavras ali grafadas as imagens de “palminhas”, “dedinhos polegares”, “mãos encobrindo os rostos encabulados”, barquinhos navegando um idílico lago e ao fundo um belo por do sol,os memes, os emoticons ou os emojis,os quais sou incapaz de entender o que o meu eventual leitor ou leitora quer traduzir, o que realmente ele ou ela sentiu em relação à minha crônica, ao meu conto, ou mesmo um texto de opinião política?Se vaidoso eu fosse (está bem, reconheço, eu o sou, não precisam sequer se darem ao trabalho me informar!), os pressuponho acometidos por profundas emoções e que “olhando para mim as mesmas emoções sentiram” ao ponto de lhes faltarem palavras e se verem na condição única de valer-se das benditas “figurinhas”?
O sucesso e o fácil acesso às redes sociais estão alimentando a expansão de “alfabetizados disfuncionais”. As dificuldades que os internautas enfrentam quando pretendem produzir
uma simples mensagem são inúmeras. Na maioria dos casos, eles não apresentam dificuldades em se expressar na oralidade através da linguagem coloquial. Os problemas aparecem quando surge necessidade de produção textual. Acontece que na linguagem oral o falante se expressa não só através da fala, mas também através de gestos, sinais e expressões. Esses recursos não são explorados na modalidade escrita, pois ela tem normas próprias, como regras de ortografia, pontuação que não são reconhecidas na fala.
Não adianta saber que escrever é diferente de falar. É necessário preocupar-se com o sucesso dos objetivos da produção textual, como a interação entre o produtor do texto e o seu receptor.
Para que o discurso tenha êxito, ele deve construir um todo significativo. Devem existir elementos que estabeleçam ligação entre as partes.E para que isso aconteça, abaixo os memes, fora os emoticons, uma estrondosa vaia para os emojis, ou, salvo aqueles e aquelas que alimentados pela ira, pela cólera, aborrecidos e desiludidos ante minha postura arrogante, pedante, narcisista e megalômana desistiram da leitura até o final e deletaram esta crônica sem sequer imaginar que ela na verdade retrata o meu recalcamento (mecanismo de defesa mais antigo e o mais importante) em desconhecer onde eles, os emoticons, se escondem, vez que eu também os quero usar!