Racismo leva cotistas a se esconder, diz pesquisadora
Apesar de ter conseguido falar com quase uma centena de alunos, Ana Paula avalia que os cotistas “tem medo dizer” e temem reações que possam causar ao assumir que são cotistas. “Para não se prejudicarem, eles se esquivam”. O comportamento, na avaliação da pesquisadora que deve defender sua dissertação até o fim do ano, guarda relação com a “baixíssima” autoestima dos estudantes e com o racismo.
A pesquisa de Ana Paula Meira tenta entender “o fenômeno” e traz levantamento de trajetórias e histórico escolar de cada entrevistado, fazendo recorte por classe, gênero e identidade. Segundo ela, a UnB tem “mudado lentamente” com a política afirmativa. “Existe uma presença negra que não é só a presença do estudante da embaixada africana.”
Para a pesquisadora, no entanto, há setores “elitizados” na universidade que são contra a política de cotas. A oposição tem a ver com disputas simbólicas e de mercado de trabalho. “A vaga na UnB no imaginário brasilense é super disputada. Estudar lá, especialmente em certos cursos, significa ter status.“
Ana Paula Meira critica a iniciativa do partido Democratas que entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal contra o sistema de cotas. Ela classifica a iniciativa de “reacionária” e refuta o argumento de que o recorte pela renda tornaria a política afirmativa mais justa e eficaz. “A maioria dos negros é pobre, mas o que está em voga não é só o econômico. O que socialmente está torto é o racismo”, defende.