Sergio Agra
Colunistas

Resoluções para um novo ano – Sergio Agra

É habitual na semana última do ano listar-se uma série de regramentos, promessas ou resoluções para o Ano Novo. Jamais as fiz, vez que no mês de fevereiro já as teria descumprido.

São curiosas, esdrúxulas tais resoluções, muitas vezes chegando às raias do absurdo e do surreal: — “Vou parar de fumar a partir da meia-noite do dia 31 (faltou jurar que não será aquele dia o de fevereiro)”. — “Cerveja, caipirinha e churrasco de picanha e costela minga somente no último final de semana do mês (com o custo do quilo da carne nem mais preciso será fazer tal juramento)!”. — “Farei caminhadas diárias de cinquenta minutos (um vento mais forte será razão suficiente para se adiar para amanhã, para depois, para mais tarde, para a semana seguinte…)”. — “Vou trancar a boca e emagrecer 15 quilos em 30 dias (me engana que eu gosto!)”. — “Vou reduzir as ‘visitas’ às amigas pelo celular (tempo estimado de cada ‘visita’: uma carga de bateria por conferência)”. — “Vou ler um livro por semana (até que lhe caiam às mãos “Em Busca do Tempo Perdido”, de Marcel Proust, 2.472 páginas, “Ulysses”, de James Joyce, 1.112 páginas, e “Meu Nome é Vermelho”, de Orham Pamuk, 576 páginas). — “Não vou mais no Discreet Beauty Salon, tem muita fofoca e eu detesto isso (algumas, por supuesto!)!”. — “Vou subir de joelhos os 382 degraus da Igreja Nossa Senhora da Penha se o Grêmio retornar à Primeira Divisão em 2023 (Quem sabe, o Todo-Poderoso tenha compaixão e negocio pelos 63 da Igreja das Dores?)”.

Para este final de ano irei quebrar a resolução de não listar resoluções para 2022. Será apenas uma única promessa: serei casmurro! Não o casmurro tristonho, melancólico que fora Bentinho na criação de Machado de Assis, o Bruxo do Cosme Velho, mas o do Bruxo da Avenida Ubirajara, quando hei de incinerar num enorme caldeirão— como já fora “queimado”o inconsequente bilhetinho que intentei encaminhar ao meu “chefe”solicitando, não!, requerendo, não, mais do que isso!, exigindo o devido reajuste salarial—todos os poemas, todas as crônicas e todos os contos inéditos que desejaria presentear aos meus dezoito generosos ex-leitores, certamente agora por eles definidos como “presente de grego, isto é,como o presente que eles nem mais se preocupam em dissimular seu enfado, chateação, tédio, ao contrário da prazerosa leitura dantes esperada(o atual namorado secreto a isso proíbe, quanto mais emitir comentários!). Realmente cheguei à triste conclusão de que o gaúcho não apenas é péssimo leitor, tem preguiça de ler, como apedeuto, inculto em exprimir suas opiniões(?), valendo-se de emojis e emoticons quando o poderia fazê-las através de palavras. Malditos emojis e emoticons! Por estas razões hei de incendiar até mesmo meu humor cáustico, mordaz, sardônico que eventualmente tenha causado irritação ou queimadura no (bom e no mau) humor das pessoas.

Serei o arquétipo do destituído de graça e da comi cidade àqueles que não tenha me entendido o meu jeito irreverente de ser. Não os culpo! As razões já foram ditas acima. O que não desejo para  “O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas”, que já está a bater em nossas portas, é estar só, e sim desconstruir a premissa, a dedução e a conclusão de que as mulheres muito atraentes e os homens muito inteligentes estão destinados a viver isolados. Infelizmente esta desconstrução é inexequível.

Por isso, esses dois tipos— a mulher demasiadamente bela e o homem inteligente —nunca têm amigos íntimos.

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