Dr. Sander Fridman é Doutor em Psiquiatria pelo IPUB/UFRJ. Atende Neuropsiquiatria, Psicanálise Cognitivista, Transtornos Sexuais e Relações Conjugais.
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Resolvendo a Catástrofe Gaúcha – Dr. Sander Fridman

Pessoas adoecem. Do corpo, da mente, do espírito. As causas podem ser variadas. Cabe ao médico, aos demais profissionais, e principalmente aos pacientes, prevenirem, abreviarem e minorarem o sofrimento, reduzindo as chances de complicações, e novos adoecimentos e perdas.

Resolvendo a Catástrofe Gaúcha - Dr. Sander FridmanDiagnosticar uma doença não é apenas dar nome aos sintomas. Mas, quando possível, identificar seus determinantes e enfrentá-los. Quanto mais recursos dispuser o profissional, mais meios terá para ajudar. Um atestado bem redigido pode ser mais efetivo que um remédio, para fazer cessar fatores do ambiente de trabalho. Um bom ensinamento poderá mudar estratégias e convidar a revisar atitudes ineficazes.

Mas como combater o desespero e a desesperança decorrentes de uma catástrofe na qual grande parte dos gaúchos se viu à mercê de um dilúvio, que virtualmente acabou com a base material, geográfica e social de suas vidas?

Sim, o resgate das pessoas, o atendimento social, o atendimento médico, psiquiátrico, psicológico, são da maior importância. Mas é necessário compreender o fenômeno de um modo tal que as pessoas possam agir sobre ele, proteger-se dele, evitar que se repita, até se esgotarem as fontes de solidariedade e as forças pessoais!

Como um cidadão cientificamente educado, fui em busca de respostas. E conheci, por meio dos vídeos postados no YouTube pelo catarinense Thiago Drumm, explicações muito convincentes, e as seguintes estratégias objetivas de interrupção das inundações repetitivas:

1) Abertura de canal (is) estravasores da Lagoa dos Patos para o Mar.
2) Administração preventiva dos níveis das barragens de hidrelétricas e eclusas.
3) Desassoreamento emergencial de rios, deltas, lagos e lagoa.

E fez sentido para mim. Pois veja:

– A inundação que atingiu toda a região banhada por rios, deltas e lagos que drenam para a Lagoa dos Patos, atingiu também Pelotas e Rio Grande, mas não aingiu a praia do Cassino. Ora, porquê? Porquê o mar não sobe – fica sempre no nível do mar (Tsunamis à parte!) Mas a distância entre Pelotas e Rio Grande, até o mar, é tão pequena! As águas que os banham estão, com a praia do Cassino, rigorosamente, no mesmo nível – o do mar! Ou não estão?

Não, não estão! Os Molhes da praia do Cassino determinaram, com sua última extensão de 2011, uma elevação importante no nível de toda Lagoa dos Patos. Esta elevação repercutiu sobre a lentidão com que a lagoa escoa suas águas para o mar, assim como as do guaíba, dos deltas e dos rios que nela desembocam. Esta lentidão aumentou muito a decantação de materiais e detritos normalmente levados pelos rios para o mar, causando extenso assoreamento – que se reverteria ao serem levados pelas águas, tão somente de aumentar sua vazão.

Com respeito ao controle dos níveis de águas nas barragens e eclusas, há de se compreender que, para cada volume de água acima do leito dos rios e lagos, corresponde um volume proporcional de água abaixo e ao redor do leito dos rios, no lençol freático e na umidificação do solo, incapacitando o solo para prontamente absorver prontamente parte da água das chuvas, levando a inundações rápidas e inclementes.

Sabendo-se que irá chover forte em 7 dias, por exemplo, de acordo com nossa capacidade preditiva, esvaziam-se as represas e lagos artificiais, cautelosamente e ao máximo, e assim conseguiríamos preparar o solo, os lençóis freáticos e as represas absorver e reter efetivamente o súbito aumento exagerado das águas, protegendo as cidades e populações à jusante (abaixo das represas). Convertendo-as, assim, de problema em soluçao para as inundações.

Baixar os níveis das águas da Lagoa dos Patos pode impactar nos interesses do Porto de Rio Grande, reduzindo o calado dos navíos que a ele têm acesso. Mas a sociedade, a economia e as vidas dos gaúchos não podem ser reféns em favor dos interesses do Porto de Rio Grande, não é mesmo? Um nível mais baixo para a Lagoa dos Patos reduziria o máximo calado dos navíos que têm acesso ao Porto de Rio Grande.

Uma alternativa satisfatória seria a criação de canais que esvaziam a Lagoa e a preparam para receber grandes aumentos de vasão, antecipadamente a períodos de chuvas intensas. Ou seja, quando se preveem chuvas intensas, devem se esvaziar ao máximo as barragens (e são muitas no Estado) e baixar o nível da lagoa dos patos, protegendo as barragens, e facilitando o escoamento, com riscos bem menores de inundações.

Há pouco debate em torno do tema. Os argumentos que se têm lançado em contra estas soluções são pífios – como quanto à salinização da Lagoa: o fato é que a lagoa era periodicamente salgada, e se “adoçou” por causa dos molhes construídos pelos engenheiros! Por isso ali se pescavam camarões – que sumiram, e é queixa geral dos pescadores!
Problemas precisam ser resolvidos, não apenas medicados! É o momento de ouvirmos de ouvirmos outras opiniões!

O Dr. Sander Fridman é médico, psiquiatra, Doutor em Psiquiatria pela UFRJ; estudos em História das Ciências, das Ciências da Saúde e da Saúde Mental pela Casa Oswaldo Cruz – Fiocruz; Disciplina de Sociologia do Conhecimento pela PUCRS; estágio pós-doutoral pelo PPG-Direito da UERJ (Teoria da Prova Aplicada à Prova Técnica)”

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