Se a carapuça serviu, não me insultes – Sergio Agra
Os amigos, os verdadeiros, que me dissecam qual mapa aberto à sua frente sabem que trago em mim um moleque e irrequieto duende, um bruxinho, um gnomo, um goblin, provocador, cultor e idólatra de férteis polêmicas.
É ele quem, álacre e zombeteiro, costuma me despertar e arrastar-me —, como o fez no fim da madrugada deste sábado que será um dia lindíssimo, não somente um sábado cristão; um imenso sábado universal — para os teclados do computador para que eu escrevesse um desagravo aos insultos que minha crônica “Quando Até a Cor Verde-oliva do Esmalte Provoca Baixaria” recebeu por quem, por conta exclusiva de seu juízo de valor, ofendida, vestiu a carapuça do busílis daquele texto.
Por cristã e caridosa leniência escuso identificar-lhe o nome ao mesmo tempo em que lhe deixo à vontade para me desativar da sua lista.
Não ofendo pessoas.Entendo-as como adultas. Critico-as e alguns acham que é ofensa. Crítica não é raiva. É crítica. Às vezes é estúpida. Cada qual que a julgue. E ninguém está ileso de cometer uma estupidez. Acho que quem ofende aos outros é o cronista em cima do muro, que não põe a cara à tapa, que não quer contestar coisa alguma. Meu tom às vezes é sarcástico, é ácido. Pode ser desagradável, mas é uma forma de respeito, ou, até a irritação do amante rejeitado.
À dona das unhas esmaltadas em tom verde-oliva eu diria que a literatura, em si, o ato de escrever para uma “plateia” vazia ou com poucos leitores, não nos torna felizes, porém ajuda-nos a defendermo-nos da infelicidade. Por isso não me esforço para que minhas crônicas sejam demasiadamente populares ou que agrade e elogie os gostos de cada um. Valho-me de Arthur Schopenhauer: “Para ser popular, a pessoa tem que ser burra ou feia. A pessoa sensata não vai passar a vida querendo ser popular. A popularidade não mostra o que é verdadeiro ou bom, pelo contrário, nivela por baixo. Melhor buscar dentro de si mesmo os valores e metas”.
Quero desejar o menos possível e saber o mais possível. As mulheres muito atraentes (que num remoto passado a vaidosa amiga(?) foi), assim como os homens muito inteligentes (dom que sequer o “Alemãozinho”* corrói, estão destinados a viver isolados. É que os outros ficam cegos de inveja e de raiva da pessoa desse quilate. Por isso, esses dois tipos (o homem inteligente e a mulher bonita e vaidosa, que presumo a Natureza tenha a “generosidade” de tê-la conservado) nunca têm amigos íntimos demais.