Ser ou não ser? – Dr. Sander Fridman

Ser ou Não Ser?

Na caracterização por Shakespeare do dilema de seu personagem, Hamlet, melancólico e psicótico, este oscila entre a possibilidade de dar por findo seu sofrimento em vida, e o receio do que viria depois com a morte, de onde “jamais viajante algum atravessou de volta.”

O mês de Setembro tem sido consagrado internacionalmente às campanhas de prevenção ao suicídio em todo mundo. A Tragédia de Hamlet (1623) segue hoje como imagem a sintetizar o drama do suicida, e o mais comum dos determinantes clínicos associados à tentativa de suicídio – a depressão e a psicose, esta última com seus sintomas alucinatórios (visões, vozes) e delirantes (desconfiança, pessimismo, inutilidade, incapacidade, e, menos comumente, a euforia nihilista).

Se Hamlet vivesse entre nós, com a oportunidade de acesso aos modernos recursos médicos, Gertrudes, Laertes e ele próprio talvez fossem poupados de seu fim trágico.

A potência eletrofisiológica posterior, a atividade alfa frontal esquerda, a delta durante o sono, são alguns dos indicadores observados no mapeamento cerebral, que têm sido utilizados cientificamente no acompanhamento das depressões.

Como estes, muitos outros avanços terapêuticos têm sido disponibilizados pela medicina no sentido de escolher, com a maior precisão, os recursos mais efetivos e rápidos na redução do risco de suicídio, sabendo-se que a grande maioria padece de doenças psiquiátricas graves, que, nem por isso, precisam ser privadas do devido tratamento. A maioria passível de alívio ou até cura sintomática.

“Se quer faz, não fica avisando!” Esta expressão ainda se ouve aqui e ali! Além de representar uma insensibilidade constrangedora, expressa um grande desconhecimento, travestido de pseudo-moralismo negativo e superficial. Como resultado de uma variedade de condições médicas, as ideias de morte ou suicídio, o desejo de não mais viver, as tentativas de suicídio, expressam um pedido de ajuda, e uma busca urgente por alívio. E esta ajuda e este alívio são comumente disponíveis, quando o caso é lidado com o respeito, a qualidade de atendimento, e a prontidão que o caso merece e exige!

Enquanto o apoio espiritual, psicológico, social não devam ser desprezados, atender um paciente com inclinação suicida sem a ajuda de um profissional qualificado é tão absurdo quanto pretender que um “serviço de ajuda voluntária da comunidade”, por voluntários leigos, seja encarregado de atender pacientes infartados, apendicites agudas, sangramentos digestivos. São quadros com óbvio risco para a vida, e que exigem uma pronta intervenção, tecnicamente bem preparada e conduzida.

As campanhas de prevenção ao suicídio do Setembro Amarelo vêm pecando, talvez, apesar de sua ótima intenção, ao não primar por encaminhar os paciente e seus familiares, ao atendimento mais adequado e com a maior chance de prevenção das piores consequências – a morte e principalmente, por sua frequência, as sequelas, físicas e morais, das tentativas.

Dr. Sander Fridman é neuropsiquiatra, psicanalista cognitivista e psiquiatra forense.

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