Somos nós que devemos pedir perdão às putas – Sergio Agra
SOMOS NÓS QUE DEVEMOS PEDIR PERDÃO ÀS PUTAS
“Então Jesus pôs-se de pé e perguntou-lhe: ‘Mulher, onde estão eles? Ninguém a condenou?’.
Ninguém, Senhor’, disse ela. Declarou Jesus: ‘Eu também não a condeno’. – Jo 8: 11.
Ainda hoje, segunda-feira, 10 de junho, a alegada agressão e o presumido estupro sofrido pela modelo Najila Trindade Mendes de Souza por parte de Neymar Jr., o “Menino Ney”, camisa 10 da Seleção Brasileira de Futebol, infestam com as mídia e as redes sociais, fruto da condição humana de autênticos espectadores das arenas do Coliseu contemporâneo a exigir minimamente a catarse (purificação do espírito do espectador através da purgação de suas paixões, especialmente dos sentimentos de terror ou de piedade vivenciados na contemplação do espetáculo trágico) como forma de compensar o pagamento do ingresso do “espetáculo”.
Escusado salientar que ante a natureza corrupta e do quanto pior, melhor, vinheta dos noticiários da mais poderosa rede nacional de comunicações, do patológico voyeurismo, ou mixoscopia, dos internautas plantonistas, que o affaireNajilaXNeymarmuita ainda há de render.
Somos um povo extremamente preconceituoso. O racismo e a homofobia disputam com o machismo, centímetro por centímetro, cabeça a cabeça, tal páreo em cancha reta e sem linha de chegada. Foi necessário que uma heroína, após restar paraplégica, emprestasse seu nome à Lei, Maria da Penha, para que as mulheres timidamente iniciassem a cruzada contra a violência doméstica. Quanto tempo mais será necessário para que o abuso sexual e o estupro venham corajosamente à tona?
Difícil prever, sobretudo se admitirmos que no estupro a vítima possa, num “passe de mágica” transformar-se em falsa acusadora. Se isso servir de consolo, este não é um perfil privativo do brasileiro, do latino. Imagine sofrer um estupro na sua própria cama, denunciá-lo à polícia e acabar como ré do próprio processo, acusada de mentir à polícia.
Por mais inverossímil que pareça, isso aconteceu na vida de Marie, quando, aos 18 anos, foi vítima de um estupro e acabou sendo processada pelo estado e esta é a história contada no livro “Falsa Acusação Uma História Verdadeira”, dos jornalistas T. Christian Miller e Ken Armstrong, vencedores do Prêmio Pulitzer. Marie, uma jovem que viveu toda a vida em lares temporários e adotivos, que sofreu abuso ainda criança, que, pela primeira vez na vida estava vivendo uma “vida normal”, foi vítima de um estupro dentro da própria casa. No relato feito à polícia, ela confundiu detalhes do que houve. Mais tarde, ela não reagiu como esperavam algumas pessoas próximas. Ela não se comportou, segundo a polícia, como vítimas de estupro devem se comportar. E uma sucessão de erros investigativos e de depoimentos fez com que ela terminasse assinando uma confissão de que teria mentido. Ao voltar atrás, foi intimidada e ameaçada de que poderia perder o local em que vivia e até ser presa. Marie teve todas as provas do crime descartadas e só depois de um intenso trabalho conjunto entre equipes de polícia de diferentes distritos é que teve a verdade revelada.
Como afirmei em minha crônica ‘As “marias” do Brasil’, publicada na quinta-feira, 8, “o que se passa entre quatro paredes somente o celular é testemunha. E, assim mesmo, corre-se o risco de ser fake new”.
Até onde Najila Trindade Mendes de Souza sustentará sua versão – ou versões, vez que a modelo já prestou mais de duas. Até onde o “Menino” Ney – vaidoso, arrogante, porém de zero sabedoria – suportará o rojão?
Nas redes sociais vingam todo o tipo de “sentença transitada em julgado”. Os “defensores” de Neymar a tacham de puta!
Aí quem se revolta sou eu! Por que tamanha ofensa–não a Najilaque, salvo melhor juízo e até prova em contrário, a exemplo de Suzana Werner e Daniella Cicarelli, a “Bocão”, na relação com o babaca do Ronaldo Nazário, ou de Adriane Galisteu, que estava no lugar certo e na hora certa quando Ayrton Sena sofreu o trágico acidente, tal“mercenária”, busca o$ seu$ quinze minuto$ de fama e o que viere será lucro – às putas que, para sobreviverem, se submetem aos riscos de todos os quilates, desde o cáften que lhes arranca mais de 60% da féria até o corpo suado e nauseabundo de um desconhecido que certamente nunca mais há de ver.
As putas, mais de 95%, são meninas vindas das comunidades periféricas ou do vilarejo pobre do interior, paridas nas condições mais miseráveis, ante o olhar perdido da mãe que sequer tem um pão dormido para dar a elas e ainda repartir com a ninhada de ranhentos barrigudinhos; do pai alcóolatra e desempregado. Essas meninas – retrato em branco e preto de minhas putas tristes– sequer sabem o que é uma cartilha, um banco escolar, obrigação fundamental do Estado que apenas contempla as elites.
Não olvidemos também as putas de luxo, que prestam seus serviços em hotéis como Copacabana Pallace, CullinanHplus Premium, Royal Tulip, Grand Bittar, Hilton Barra, MGallerybySofitel, Sheraton, Caesar Park, Grand Meliá Nacional.Sim, os honorários atingem a cifra de sete dígitos (algo que para o babacão-mor Ronaldão, e do “Menino” Ney, não passa de reles gorjeta). Porém, estas são belíssimas, pele sedosa, coxas longas como garça real, perfumadas, discretas, altamente profissionais e, por isso, dotadas da virtude que pouco ou quase nenhum político tem:
ÉTICA!