Depressão - Depressão, suicidio © Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Suicídio entre idosos cresce no RS: líder de casos no país

Um dia quente de verão, durante a semana.

Para os gaúchos, sinônimo de trabalho ou férias.

Para muitos idosos – principalmente homens, brancos, com idade entre 60 e 69 anos e sem antecedentes criminais, pode ser o último dia de vida.

Esta é a conclusão de uma pesquisa feita por uma perita criminal do IGP, a partir da consulta a todas ocorrências da Polícia Civil e laudos periciais do IGP, relacionados aos óbitos por suicídio entre 2017 e 2019 no Estado.

Os dados mantêm o Rio Grande do Sul como sendo o estado brasileiro onde há mais casos de suicídio entre a população idosa, e Porto Alegre como a campeã dessa realidade entre as capitais.

A pesquisa analisou 4.019 ocorrências de suicídio.

Destes, 1145 foram de idosos, o que correspondeu a 28,5% dos suicídios do período, o dobro do estado de Mato Grosso.

O índice cresceu: o percentual de idosos suicidas entre 2001 e 2015 era de 23,3%.

Pesquisa traz dados úteis para elaboração de políticas públicas
Pesquisa traz dados úteis para elaboração de políticas públicas – Foto: Arte Cíntia Rushel/SSP

A taxa média anual de mortalidade, registrada na faixa etária acima dos 60 anos, foi 19,1 casos/100 mil habitantes. Houve aumento de 17,7% nos casos, nos anos abrangidos pelo estudo (345 em 2017, 394 em 2018 e 406 em 2019).

O número médio anual de óbitos por suicídio de idosos no RS (382) foi duas vezes superior ao registrado na Itália (2005-2010) e quatro vezes maior que o da Irlanda (1997-2006).

Ainda assim, os dados obtidos no RS não são tão alarmantes quando comparados aos dos EUA, Coreia do Norte ou China.

O estudo apurou as taxas de suicídio quanto à região do Estado em que aconteceram. Porto Alegre teve a maior quantidade absoluta de casos: 80.

Venâncio Aires, porém, dominou a tabela dos municípios com mais de dez mil habitantes idosos, com 71,6 casos a cada 100 mil habitantes.

Os três casos registrados em Camargo, próximo a Passo Fundo, garantiram ao município a maior taxa na relação por 100 mil habitantes – 162,5/ 100 mil.

A autora também avaliou as análises toxicológicas das amostras biológicas, que são coletadas nas mortes violentas ou com suspeitas de violência, para identificar a presença de álcool, drogas e medicamentos no organismo dos idosos. Foram realizadas 1895 análises laboratoriais em amostras de fígado, conteúdo estomacal, urina e/ou sangue. A presença de etanol foi observada em 16,3% dos idosos submetidos ao teste de alcoolemia. Em contrapartida, houve a detecção de algum medicamento em 33% das análises realizadas.

A pesquisa “Perfil geográfico, temporal, epidemiológico e toxicológico das vítimas idosas de suicídio no Rio Grande do Sul, Brasil, entre 2017 e 2019” também classificou as vítimas pelas variáveis idade (mais da metade dos casos foi registrada entre idosos com 60 a 69 anos), sexo, presença ou ausência do nome do pai na certidão de nascimento, forma utilizada para cometer o suicídio (a maioria utilizou o enforcamento), quinzena do mês e período do dia.

Perita usou dados do IGP para fazer a pesquisa
Perita Maria Cristina Franck usou dados do IGP para fazer a pesquisa – Foto: Comunicação/IGP

O trabalho é um desdobramento da tese de Doutorado da perita criminal Maria Cristina Franck, do Departamento de Perícias Laboratoriais do IGP, e que foi defendida no Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O artigo será publicado na revista Debates em Psiquiatria e tem como co-autoras Maristela Goldnadel Monteiro e Renata Pereira Limberger.

As autoras também fazem considerações sobre a existência de políticas públicas de prevenção ao suicídio e de como a pesquisa pode colaborar para a elaboração destes.

“Compreender e contextualizar os fatores relacionados aos casos de suicídio entre os idosos, a partir de informações regionais, auxilia na elaboração de políticas públicas e no direcionamento de recursos voltados ao acolhimento e à melhora na qualidade de vida dessa população”, afirma Maria Cristina Franck.

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