Super–bactérias, o mau do futuro
Infectologistas, ambientalistas, governantes, a mobilização nos próximos anos deve ser geral nestes setores. Pelo menos é o que esperamos no sentido de controlar o desenvolvimento das “super – bactérias”, que estão aparecendo cada vez em maior quantidade e também com mais super poderes. Os antibióticos, tão potentes e tão eficazes, que a partir do aparecimento da penicilina salvaram tantas vidas, estão se tornando “armas” a favor dessas bactérias. Várias são as situações associadas à administração errônea destes medicamentos, tanto resultantes da automedicação quanto resultantes da sua errada indicação pelos profissionais de saúde, que estão nos tornando mais e mais vulneráveis ao ataque destas super inimigas.
Em primeiro lugar se situam as políticas governamentais de não controle de venda de antibióticos. Qualquer pessoa, por indicação do amigo, do vizinho ou do colega de trabalho pode ir a uma farmácia e comprar qualquer tipo de antibiótico, que não será pedida nenhuma receita ou haverá qualquer questionamento de parte do vendedor. Isto é uma situação que gera vários problemas. Se olharmos apenas pelo lado da infecção teremos antibióticos usados por um período menor ou maior que o preconizado, com indicações equivocadas (ausência de infecção bacteriana, infecção que normalmente não responde ao antibiótico que está sendo usado ou antibióticos de potencia maior do que o necessário) e em doses inferiores ao esperado. Esse uso indevido pode expor o individuo a outros tipos de bactérias, ao desenvolvimento de resistência aos antibióticos e às superinfecções, dentre tantas outras conseqüências que uma indicação equivocada pode levar.
Quando avaliamos as conseqüências que uma indicação médica não obedecida pode ter, nos deparamos com situações em que, a simples troca de medicamentos ou um encurtamento do prazo estipulado pelo médico, podem levar a que, patologias tão corriqueiras, como uma amigdalite e tão fáceis de tratar nos dias de hoje, adquiram outra dimensão e se transformem, como no caso da amigdalite, em Febre Reumática, doença de acometimento cardíaco e com graves repercussões para o paciente. Isto tudo sem mencionar os efeitos colaterais que o uso de antibióticos pode ocasionar.
Economicamente, para um país como o nosso, encontramos gastos totalmente desnecessários, que redundam até em internações, com enormes despesas para paciente e para os serviços de saúde como um todo.
Nossa situação é grave, mas não é diferente do mundo globalizado em que vivemos, onde, em questão de horas somos atingidos pelo vírus da gripe asiática que ocorre no oriente, pela epidemia da vaca louca, ou pelas bactérias multiresistentes resultantes das infecções ocorridas após o tisunami da Indonésia. Situação pior que a nossa vivia a China, onde até pouco tempo os médicos podiam receitar e vender medicamentos de suas próprias farmácias. Enquanto não aconteceu uma intervenção do governo federal daquele país, os pacientes se viam à mercê de profissionais que viam, na perpetuação desta situação, uma oportunidade de encher os próprios bolsos.
Ao nosso lado vemos um exemplo contrário, de determinação, de civilidade e de proteção ao povo. Indo em contra aos interesses da indústria farmacêutica, o Chile proibiu a venda de antibióticos sem receita. Desde então, o gasto com estes medicamentos caiu expressivamente e as indicações destes medicamentos tornaram-se muito mais precisas.
Políticas de controle ambiental também devem ser instituídas e obedecidas, na tentativa de reverter essa situação. Sabe-se que, para controlar as criações de aves, são utilizados antibióticos cada vez mais potentes em suas rações diárias, que são repassados ao homem e ao solo, levando ao aparecimento de comprovada resistência por vários tipos de bactérias que atacam os seres humanos, resistência essa que não existia no passado, antes da utilização destes medicamentos.
A situação vem se tornando cada vez mais grave, por isso se espera a participação de todos os citados no principio do texto e da população como um todo, já que a indústria farmacêutica e os pesquisadores deram um veredicto para os próximos 20 anos:
“A possibilidade de aparecimento de alguma nova droga, que venha a surtir efeito no controle de infecções bacterianas é muito remota e quase inexistente, dentro dos próximos 20 anos”.
Se não houver uma atitude global e governamental, para que sejam colocadas em prática políticas de controle destes medicamentos; um maior esclarecimento e conscientização dos profissionais de saúde, através de uma melhor formação e atualização contínua desta classe, contribuindo para um receituário adequado e coerente; e uma aclaração da população, para que não se automedique desnecessariamente, não chegaremos a ter um final feliz para essa situação, com a vitória dos mais fortes e com nossas próprias armas.