Surf seguro
O mar apresenta riscos que precisam ser conhecidos para que o surf seja praticado com segurança.
Sem dúvida o surf é um dos esportes mais fascinantes que podemos praticar, principalmente por nos permitir estar em contato direto com o mar.
Porém, apesar do prazer que este esporte nos proporciona, o mar apresenta uma série de fatores de riscos que precisam ser conhecidos para que o surf seja praticado com segurança.
Portanto, além de aprender a remar, furar e dropar a onda, o surfista também deve observar e avaliar bem a praia e os processos hidrodinâmicos que atuam sobre ela como as marés, as ondas e principalmente as correntes que atuam tanto paralelamente como transversalmente na zona de arrebentação.
Mas, afinal, qual é a definição de praia? O conceito básico de praia é a transição entre o continente e o oceano. De acordo com King (1959) a praia é um ambiente sedimentar costeiro de composição variada, formada mais comumente por areia e condicionado pela interação dos sistemas de ondas incidentes sobre a costa.
Segundo a sua hidrodinâmica, as praias distinguem-se nas seguintes zonas:
– Zona de arrebentação: faixa em geral estreita, onde as ondas se rompem devido à diminuição da profundidade;
– Zona de surfe: região entre a zona de arrebentação e a zona de espraiamento onde as ondas continuam a se propagar, perdendo energia até chegar à face de praia.
– Zona de espraiamento: zona em que ocorre o espalhamento da água do mar depois da arrebentação da onda.
Destas três zonas, é dentro da zona de surfe que ocorre maior influência da ação dos ventos, ondas e correntes costeiras. As ondas são geradas a partir da ação dos ventos que, ao soprar sobre a superfície do mar, forma pequenas ondas capilares (vagas). Mantendo-se a ação do vento, estas pequenas rugosidades da superfície da água se somam para produzir ondas maiores cujo tamanho é limitado pela velocidade e duração (tempo) de ação do vento e pela pista, ou seja, a extensão da superfície aquosa sobre a qual o vento está soprando.
Zonas que compõem a hidrodinâmica das praias.
Uma vez geradas, as ondas viajam mantendo sua trajetória mesmo depois de cessada a influência dos ventos. Fora da área de ação dos ventos, essas ondas são denominadas de marulho ou swell. Ao se aproximarem das regiões de águas rasas, as ondas vão sofrendo modificações em seus parâmetros (altura e comprimento de onda) e velocidade de propagação, devido às modificações do fundo submarino.
A partir do momento em que a onda “sente o fundo”, a velocidade de propagação e o comprimento da onda diminuem e a altura aumenta, até que finalmente ela arrebenta, dissipando a energia que vinha transportando desde o alto-mar. É aproveitando essa energia dissipada pela onda no momento da quebra que os surfistas conseguem deslizar sobre as águas.
A maneira como a onda vai arrebentar depende do gradiente do fundo próximo à praia e da relação entre a altura e o comprimento da onda (H/L), conhecida como esbeltez da onda. Deste modo, existem basicamente quatro tipos de arrebentação:
– Deslizantes ou progressivas: são características das praias que possuem fundo pouco inclinado. Esta onda começa a quebrar longe da beira da praia de modo suave e apresenta um longo percurso na zona de surfe;
– Mergulhantes: as ondas se quebram abruptamente ao se chocarem com fundos relativamente inclinados. Este tipo de arrebentação é a preferida pelos surfistas por ser formadora de tubos;
– Ascendentes: em vez de quebrar, as ondas avançam sobre a face de praia, sendo refletidas de volta. Estas ondas são características de praias de tombo que apresentam fundos muito inclinados;
– Frontais: são ondas intermediárias entre as mergulhantes e as ascendentes.
As ondas são geradas a partir da ação dos ventos.
Na zona de surfe, os ventos e as ondas empurram a massa d’água de encontro à face da praia, causando um fenômeno conhecido como empilhamento ou “wave setup”. A água então pode tomar um entre três rumos, ou todos ao mesmo tempo, formando três tipos de correntes:
Corrente de fundo (undertow): a massa d´água retorna pelo fundo, com direção ortogonal, ou oblíqua, à linha de costa e não apresenta grandes riscos aos banhistas por fluir pelo fundo;
Correntes longitudinais (longshore currents): a massa d´água flui paralelamente à praia, atingindo velocidades razoáveis.
Corrente de retorno (rip current): a massa d´água retorna pelo fundo e pela superfície com direção ortogonal ou obliqua à linha de costa. Muitas vezes se desenvolve quando uma corrente longitudinal é desviada por alguma feição geomorfológica submersa ou emersa, como bancos de areia, afloramentos rochosos, etc., fazendo com que o fluxo se dê em direção à zona de arrebentação.
Os locais de permanência das correntes de retorno são conhecidos pelos banhistas como “canais” e são muito utilizados pelos surfistas para passar com maior rapidez da zona de arrebentação.
Porém, devido a sua velocidade, esta corrente é responsável pelo maior número dos acidentes ocorridos dentro da zona de surfe em praias do mundo inteiro. De acordo com informações do Salvamar, as correntes de retorno são responsáveis por cerca de 70% dos acidentes ocorridos nas praias de Salvador.
A corrente de retorno gera uma falsa sensação de que as águas sobre o canal são mais calmas, uma vez que as ondas não quebram sobre ele. Isso faz com que muitos banhistas sejam atraídos por esses locais acreditando que estão escolhendo as áreas mais calmas para o banho. Alguma vez você surfando já teve a sensação de estar remando e não sair do lugar?
Provavelmente você estava numa corrente de retorno e mesmo excelentes nadadores podem ser inúteis para auxílio nesta corrente.
Ao perceber que está dentro de uma corrente de retorno, você deverá controlar o pânico e remar (ou nadar) em direção a uma das laterais da corrente em sentido diagonal e a favor da correnteza. Sentindo que ultrapassou os limites da corrente, deve, aí sim, remar em direção à praia.
Estes são alguns dos conhecimentos fundamentais para que o surf seja praticado com segurança. Agora que vocês já estão espertos, o que é que estão esperando?
Boas ondas!
Lizandra Carvalho é mestranda em Geologia Marinha, Costeira e Sedimentar na Universidade Federal da Bahia (UFBA).