Ciclone bomba, temperaturas de inverno em pleno dezembro: o que explica o clima no RS?
O mês de dezembro começou com temperaturas baixas, chuvas intensas e fenômenos incomuns, como o ciclone bomba que surpreendeu o Sul do Brasil, trazendo uma atmosfera mais parecida com o inverno do que com o início do verão.
A Oscilação Antártica negativa, massas de ar frio tardias e padrões climáticos distintos foram os responsáveis por esse cenário fora do padrão.
Nos primeiros dez dias do mês, volumes de chuva chegaram a 300 mm no Paraná e ultrapassaram 200 mm no Rio Grande do Sul, gerando transtornos em diversas regiões.
Além disso, ventos superiores a 100 km/h afetaram milhões de pessoas, principalmente no Rio Grande do Sul, durante duas ondas de tempestades registradas em apenas cinco dias.
O fenômeno climático mais marcante foi a formação do ciclone bomba entre o Uruguai e o Rio Grande do Sul, algo extremamente raro para dezembro.
Embora ciclones extratropicais ocorram em qualquer época do ano, uma ciclogênese explosiva em latitudes médias é considerada incomum, principalmente no fim do ano.
A formação do ciclone esteve diretamente relacionada ao avanço de massas de ar frio que, geralmente, são mais típicas do inverno.
Frio atípico e registros históricos
O frio também surpreendeu no Sul do país. Temperaturas de até 5ºC foram registradas no Sul do Rio Grande do Sul, e tardes geladas marcaram cidades da Serra Gaúcha, com máximas de apenas 12ºC a 13ºC no último domingo.
Em Campo Bom, cidade conhecida pelo calor intenso no verão, o geógrafo Nilson Wolff apontou que dezembro registra, até agora, a menor temperatura média desde 1990, configurando um evento histórico de 35 anos.
O que explica este dezembro incomum?
Não há apenas um fator responsável por tantas anomalias climáticas, segundo a MetSul. No Oceano Pacífico, o cenário apresenta neutralidade fria no Pacífico Equatorial Centro-Leste, o que favorece incursões de ar frio tardias.
Já na costa do Peru, as águas aquecidas com anomalias positivas influenciam o aumento das chuvas no Sul do Brasil.
No entanto, o principal motivo está no extremo Sul, com a Oscilação Antártica (AAO) em valores negativos. Essa condição climática afeta diretamente o Sul do Brasil, aumentando a chance de ingresso de massas de ar polar, ciclones e chuvas volumosas.
Durante a fase negativa, o cinturão de ventos polares enfraquece e se desloca para o Norte, facilitando a chegada de ar frio e tempestades na América do Sul.
Oscilação Antártica e seus impactos
A Oscilação Antártica, também conhecida como Modo Anular Sul, é uma variável crucial para entender o clima no Hemisfério Sul. Quando negativa, há um aumento na ocorrência de chuvas intensas e ciclones, fenômenos que marcaram os primeiros dias de dezembro no Sul do Brasil.
Estudos comprovam que, independentemente das condições do Pacífico (El Niño, La Niña ou neutralidade), valores negativos da AAO têm potencial de intensificar chuvas e aumentar a frequência de massas de ar frio no Sul do continente.
Com tantos fenômenos atípicos em apenas dez dias, o início de dezembro de 2024 se destaca como um dos períodos mais surpreendentes da climatologia recente. Resta acompanhar os próximos dias e verificar se o padrão persistirá ou se finalmente o calor do verão dará as caras.
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