Terça 24.03.2020 (quinto dia de quarentena) – Erner Machado
Exerci , na minha vida, variadas tarefas e profissões.
Algumas foram provisórias e outras tornaram-se definitivas.
Provisoriamente fui vendedor de doces e artesanato, apontador de jogo de bicho, carregador de areia em vagão de trem, aprendiz de Relojoeiro, cortador de lenha e professor de contabilidade Bancária.
Definitivamente, fui bancário, fui funcionário da velha CRT – que o Brito vendeu- e agora sou, consultor financeiro.
As tarefas provisórias e as profissões definitivas além de me conseguirem a subsistência própria e de minha família, me concederam o privilégio de relacionar-me com pessoas que são, na verdade, os elementos que dão vida a todas as profissões.
Hoje com 72 anos e 65 de tarefas provisórias e profissões definitivas, posso dizer que deparei-me, neste período, com todos os tipos de pessoas, cada uma com suas características próprias.
Deparei-me, então, com pessoas analfabetas e ilustradas cujas característica essencial era a extrema humildade.
Deparei-me, com pessoas analfabetas e ilustradas cuja característica essencial era a extrema arrogância.
Deparei-me com pessoas extremamente bondosas incapazes de fazer mal a um passarinho mas encontrei-me , também, com pessoas extremamente maldosas que eram capazes – pasmem – de capturar um passarinho e depois de furar seu olhos soltá-lo ,vivo ,para que voasse sem norte, até morrer.
Deparei-me com pessoas extremamente leais e com traidores de causas, de pessoas, de amizades e de laços consanguíneos.
Deparei-me com torturadores físicos e psicológicos capazes de levar suas vítimas ao desespero , ao mesmo que encontrei pessoas que libertavam corpos e almas com um simples gesto ou com um só palavra.
Deparei-me com pessoas com extrema consciência social de pertencimento e incapazes de pensar em si, antes de pensarem na coletividade.
Deparei-me com pessoas capazes destruírem a coletividade para realizarem projetos egoístas e pessoais.
Deparei-me com pessoas de honestidade singular que , convivendo com recursos volumosos de terceiros, foram incapazes de usufruir um centavo que fosse, para sí ou para seus familiares.
Deparei-me com pessoas que criavam possibilidades concretas de dedicar-se ao furto, a subtração, apropriação indébita de coisas alheias , por menores que fossem.
Deparei-me com pessoas de grandes posses e grande simplicidade e respeito pelo ser humano mas, também, encontrei pessoas miseráveis, cuja pose, cujos procedimentos, cujas posturas eram pautadas pela arrogância, pela superioridade , e pelo desprezo ao seus semelhantes.
Deparei-me com pessoas que, nada possuindo eram felizes por verem um nascer de sól, a chuva caindo, a lua subindo no céu, ou o sorriso de uma criança.
Deparei-me com pessoas que tudo possuíam e este tudo não era capaz de lhes arrancar um sorriso do rosto sisudo e triste.
E agora neste dia 24.03.2020, fico a pensar que todos estes personagem que passaram por minha existência estão, igual a mim, encarcerados nas suas prisões particulares, condenados por Misterioso Tribunal de cuja sentença de singular dosimetria , não há apelação…
Resta-me ,somente, esperar que decorrido o prazo da indefinida reclusão, sejamos todos libertados e que os bons , os humildes, os harmoniosos, o felizes, os honestos, os sociáveis, continuem cada vez mais aprimorados nas suas virtudes.
Resta-me, também, esperar que os arrogantes , os maus, os infelizes, os rancorosos, os ladrões, os prepotentes, os vaidosos ,os preconceituosos, os torturadores, os que agem com superioridade, tenham feito uma profunda reflexão e descoberto que estavam na contra mão do caminho da vida e renasçam para o amor , para a convivência fraterna, para a paz individual e coletiva e possam ser, finalmente, felizes e fazerem seus semelhantes felizes.
Erner Antonio Freitas Machado
Consultoria Financeira e Imobiliária
www.ernermachadoimoveis.com.br