Tilápia-do-nilo invade o mar do RS após enchentes de 2024

Tilápia-do-nilo foi registrada pela primeira vez em ambiente marinho no litoral do Rio Grande do Sul, após as enchentes devastadoras que atingiram o estado em maio de 2024. A descoberta,…
Tilápia-do-nilo
Foto: Maurício Tavares/Divulgação

Tilápia-do-nilo foi registrada pela primeira vez em ambiente marinho no litoral do Rio Grande do Sul, após as enchentes devastadoras que atingiram o estado em maio de 2024.

A descoberta, feita por pesquisadores do Ceclimar (Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos) da UFRGS – Campus Litoral Norte, foi publicada recentemente na revista científica Aquatic Ecology, da prestigiada editora Springer Nature.

O artigo, intitulado “Tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus) em ambientes salobros e marinhos do Estado do Rio Grande do Sul: impacto da tragédia das enchentes de 2024 no Sul do Brasil” (tradução livre), revela um marco inédito: 188 espécimes da espécie exótica foram encontradas na orla do litoral Norte do Estado, durante monitoramentos sistemáticos conduzidos pelo Ceclimar desde 2012.

Segundo o biólogo Maurício Tavares, que liderou o estudo, o monitoramento é voltado à análise de ocorrência e encalhes de tetrápodes marinhos, animais aquáticos descendentes de peixes de nadadeiras lobadas.

Ele destaca que o aparecimento da tilápia-do-nilo ocorreu justamente após o transbordamento de um criadouro local, provocado pelas chuvas extremas.

A água da enchente carregou os peixes para a Bacia Hidrográfica do Rio Tramandaí, que por sua vez deságua diretamente no oceano Atlântico.

Tilápia-do-nilo

Surpreendentemente, as tilápias conseguiram sobreviver cerca de uma semana em água salgada, demonstrando uma resiliência que levanta preocupações sobre a fuga de espécies exóticas para habitats naturais e costeiros.

A pesquisa alerta para a vulnerabilidade das estruturas de contenção dos criadouros comerciais, principalmente em contextos de eventos climáticos extremos que tendem a se repetir com maior frequência devido às mudanças climáticas.

Além de Tavares, participaram da pesquisa os cientistas Joaquim Neves da Silva Ribeiro e Cacinele Mariana da Rocha.

O grupo ressalta a necessidade urgente de aprimoramentos técnicos nas estruturas de contenção dos criadouros, com foco na prevenção do escape acidental de espécies invasoras, como a tilápia-do-nilo, que podem comprometer o equilíbrio ecológico de regiões inteiras.

A presença da tilápia-do-nilo no litoral gaúcho marca um evento sem precedentes e levanta um importante debate sobre a gestão dos sistemas aquícolas frente aos desastres ambientais.

A situação serve como alerta para todo o setor de aquicultura no Brasil, em especial nas regiões de risco, que enfrentam cada vez mais o impacto direto das mudanças climáticas e das enchentes associadas.

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