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Tramandaí em 1904: botos, jacarés e veranistas da elite

Tramandaí em 1904 era um pacato povoado de pescadores, que no verão se transformava em um movimentado refúgio para as elites do Rio Grande do Sul.

Famílias ricas de Porto Alegre, São Leopoldo, Santo Antônio da Patrulha e outras cidades viajavam longas distâncias em carroças até o litoral para desfrutar dos banhos de mar.

O acesso à beira da praia era precário, feito a pé, a cavalo ou, na maioria das vezes, em carretas de bois equipadas com bancos.

Na época, o então distrito de Conceição do Arroio (hoje Osório) era citado pelo jornal A Federação como um dos destinos preferidos dos veranistas.

Tramandaí não tinha ruas definidas, mas se desenvolvia próximo ao rio, onde três hotéis eram os principais pontos de hospedagem.

O Hotel da Saúde, de Leonel Pereira e família, se destacava pelo conforto, grande salão e um pomar.

O Hotel Sperb, de Jorge Sperb, recebia turistas ilustres e promovia eventos com a banda de música de Edmundo Wolf. Já o hotel do comerciante sírio Jorge Mury era mais simples, mas oferecia acomodações regulares para os visitantes.

Os meses de janeiro, fevereiro e março eram marcados pelo intenso movimento nas praias, embora as casas do vilarejo fossem rústicas, muitas construídas de palha de tiririca extraída das lagoas.

O rio Tramandaí tinha papel fundamental na vida do povoado: além de servir para a pesca, suas águas eram palco de passeios de canoa e pescarias recreativas. Os botos subiam o rio e frequentemente podiam ser vistos próximos à praia.

Naquela época, a região também abrigava uma fauna abundante.

Jacarés eram comuns nos passeios pelas lagoas, enquanto caçadores tinham sucesso garantido na busca por aves.

As famílias locais viviam essencialmente da pesca, sem investir em roças ou hortas.

Tramandaí em 1904: botos, jacarés e veranistas da elite
Tramandaí em 1904: botos, jacarés e veranistas da elite. Revista Mascara / Reprodução

De março a maio, a tainha era pescada em grande escala; a partir de agosto, era a vez do bagre.

As mulheres desempenhavam papel fundamental, abrindo e salgando os peixes nas areias da praia ou nos galpões improvisados.

O balneário crescia de forma modesta, mas o relato de 1904 indica que Tramandaí já se consolidava como um dos principais destinos de veraneio no Rio Grande do Sul, combinando rusticidade, tradição pesqueira e uma natureza exuberante que encantava os visitantes.

Revista Máscara: o reflexo da modernidade na Porto Alegre do início do século XX

A Revista Máscara foi uma das mais influentes publicações ilustradas de Porto Alegre no início do século XX, deixando um legado significativo na construção do imaginário urbano e nas práticas culturais da modernidade.

Criada para a elite intelectual da época, serviu como plataforma para exibir os avanços da indústria e das artes gráficas, consolidando-se como um marco no jornalismo e na cultura gaúcha.

Origem e evolução da Revista Máscara

Liderada por jovens intelectuais, a Revista Máscara foi fundada em 1918 por Augusto Gonçalves de Sousa Júnior, Wedemar Ferreira e Fábio Barros. Wedemar Ferreira assumiu a direção inicial, enquanto a equipe de redatores contava com nomes como Dyonélio Machado, J. L. Santana, Sócrates Diniz e Cyrino Prunes.

Inicialmente semanal, a revista passou a ser quinzenal em 1924 e, no ano seguinte, adotou uma periodicidade mensal, até encerrar suas atividades em 1928.

Conteúdo diversificado e impacto cultural

A revista era distribuída não apenas na capital, mas também em várias cidades do interior, oferecendo uma ampla gama de conteúdos, incluindo:

  • Críticas literárias e artísticas;
  • Crônicas e poesias;
  • Trechos de romances;
  • Artigos sobre história e política;
  • Tendências de moda;
  • Agendas de teatro, cinema e arte;
  • Reportagens esportivas e de atualidades.

O design da revista era um diferencial, contando com ilustrações elaboradas, caricaturas, fotografias e uma capa ilustrada de página inteira.

Alinhada ao pensamento modernista, a publicação destacava as transformações urbanas de Porto Alegre, acompanhando as grandes reformas da cidade na década de 1920 e divulgando novos projetos arquitetônicos e infraestrutura.

Registro da elite política e social

A Revista Máscara também funcionava como um espelho da alta sociedade porto-alegrense, registrando eventos sociais, casamentos, alianças políticas e empresariais.

Além disso, dava espaço para informações sobre o sistema de arte e cultura, abordando desde o lançamento de novos espetáculos até o crescimento da indústria fonográfica e cinematográfica no Rio Grande do Sul.

Conexão com o cenário internacional

Com um olhar voltado para o progresso global, a revista se esforçava para demonstrar que Porto Alegre e o Rio Grande do Sul estavam acompanhando as tendências culturais e avanços tecnológicos dos centros urbanos mais desenvolvidos do mundo.

Ao longo de sua existência, a publicação se consolidou como um importante vetor da modernidade no estado.

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