Um inédito emblema
Na minha juventude, não havia sábado que não houvesse a fausta e iluminada festa das jovens e sonhadoras debutantes. Eram os quinze anos, o aniversário de cristal (seria esta uma alusão ao sapatinho de cristal deixado por Cinderela, em sua fuga desesperada ao badalar da meia-noite, no baile primeiro de sua vida?). O fato é que, a cada comemoração qüinqüenal, emprestamos-lhe diferente designação.
Não sou um homem apegado às convenções. Porém, a crônica de hoje é a de número trinta, na data em que me orgulho de completar, não o jubileu de madeira da coluna, mas exatos cinco meses neste indômito Litoralmania. Por conseguinte, para mim, um inédito emblema, por que não?
Por isso, o espaço que me foi presenteado pelo Rogério Bernardes, um dos diretores deste independente e democrático jornal eletrônico, num momento em que eu tanto necessitava de oxigênio, me é tão caro. Ele (o espaço) se tornou uma das minhas razões de ser. Por ele me dessangro, me rasgo, se preciso for. Desfaço-me de todas as hipocrisias. Sou eu, verdadeiramente meu ser integral.
Se alguém me afirmar, como o fez uma generosa leitora: – “Tua opinião e o que escreves, no estilo melancólico, negativista e – segundo minha sincera leitora – oriunda de um ser frustrado, não torna a tua coluna popular”.
Eu diria a ela que a arte de um escritor depende da capacidade que este tem de considerar cuidadosamente cada aspecto da beleza ou da fealdade do momento presente, de observar os mais recônditos detalhes e, ao mesmo tempo, como quem recua para olhar-se num espelho, apartar-se deste mundo o suficiente para que possa haver entre si e ele o eloqüente distanciamento da ironia. Por isso não me esforço mesmo para que o meu estilo e minha coluna sejam populares. “Para ser popular, a pessoa tem que ser burra ou feia. A pessoa sensata não vai passar a vida querendo ser popular. A popularidade não mostra o que é verdadeiro ou bom, pelo contrário, nivela por baixo. Melhor buscar dentro de si mesmo os valores e Assim, quero desejar o menos possível e saber o mais possível”.
As mulheres muito atraentes (não sei se é o caso de minha amável leitora), assim como os homens muito inteligentes, estão destinados a viver isolados. É que os outros ficam cegos de inveja e de raiva da pessoa superior. Por isso, esses dois tipos (o inteligente e a mulher bonita) nunca têm amigos íntimos.
* Arthur Schopenhauer