Colunistas

Um novo estudo sobre a cegueira

No dia-a-dia, uma das sobremesas que mais aprecio e sou adepto é o abacate, batido ao liquidificador com uma generosa dose de leite condensado.
O fato de apreciar e ser adepto desta sobremesa não me impede de refutá-la, caso a fruta esteja podre. Comê-la, sorrindo, e dizer aos outros que o podre é a melhor sobremesa do mundo? Cegueira mental ou hipocrisia? Escolham!

No auge e na ferocidade do regime de exceção – Costa e Silva e Garrastazu Médici – eu finalizava meu Curso Clássico, no Colégio Estadual Júlio de Castilhos. Fechado o Grêmio Estudantil pelas forças da ditadura, fundamos o CAJU (Centro de Atuação Juliana), que se tornou uma célula tão ou mais incisiva do que o era o Grêmio. Muitos eventos foram invadidos à base dos cassetetes da Polícia de Choque (os famosos capacetes vermelhos).

Em 1969, ingresso no Teatro Novo de Porto Alegre, sob a direção do imbatível Ronald Radde, apresentamo-nos nos mais improvisados palcos a peça A Fossa, um instigante texto que deixo, para que o próprio Radde o resuma.

A partir das Diretas Já, jamais concedi meu voto a Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso e José Serra. Nas eleições de 2002, sim, foi o meu derradeiro voto a Lula da Silva.

Por uma questão de honestidade, integridade, honradez e princípios, não poderia, a partir de sua reeleição, compactuar com o sujeito que, incontestavelmente, amealhou fortuna familiar na casa dos dez dígitos, blindado por elementos de probidade ainda duvidosa.

Não obstante, amealhei uma leitora que, não apenas combate, munida  de arsenal verborrágico dos anos setenta, os meus textos, sobretudo por eu assim entender, como se me fosse vetado o contraditório.

Onde está o Estado Democrático de Direito, que tanto alardeia,. Só o deles?

Já me cansei de tentar desanuviar a cegueira mental da leitora. Não era pretensão sequer a escrita desta crônica. Porém, exatamente meu Diretor do Teatro Novo Porto Alegre – que este ano completa 45 anos de atividade – o dramaturgo Ronald Radde, um homem perseguido, àquela época de caça às bruxas (quem assistiu João e Maria em Cadeiras de Roda, A Fossa, B em Cadeiras de Roda, Apaga a Luz e Faça de Conta que Estamos Bêbados saberá o porquê) vem, involuntariamente, em meu auxílio. É dele o entendimento abaixo.

Ronald, o Beto também assina esta coluna. Obrigado, meu eterno Diretor.

“Contesta só o lado que lhe contesta . Nunca critica os desmandos dos seus, só as posições de quem com ele não comunga. Não viu ainda que a vida me deu razão, junto com a minha coerência. Será maduro o dia em que reconhecer que, às vezes, se acredita em quem não devia. E que as diferenças podem ser tratadas sem grosserias. E, rebelde, defendendo partidos podres???….. Rebelde é quem contesta TODOS os malfeitos . O que sempre fiz. Então, não é chato, é divertido e ao mesmo tempo cansativo, pois a ladainha de quem sempre vem com a mesma cantilena vira piada. Por isso entro só algumas vezes e, assim mesmo, nunca direcionando a ninguém minhas reflexões. Mas garanto que tenho mais a favor do que contra. Contestadores fomos nós, que fugíamos após os debates pela porta dos fundos dos locais onde apresentávamos A FOSSA, que mostrava a disparidade, há 40 anos atrás, entre os ricos e os pobres, já falávamos do traficante Beto, que explorava as prostitutas, a falta de atendimento nos hospitais que o retirante Pedro percorreu até a morte da filha que nunca viu um médico na sua frente e em pleno velório, com a presença do padre fazendo a encomendação do corpo, se discutiu a posição da Igreja frente o abandono dos pobres, do analfabetismo, do desemprego, da injustiça quando o protagonista foi preso por roubar uma boneca para a filha morta. Isso sim é rebeldia, e não ficar abrindo pastas marcadas com assuntos pré-seleccionados para desqualificar diretamente pessoas. A situação não mudou, amigo Sérgio Agra, meu eterno e premiado Beto . Só é manipulada pelo outro lado, o que esperávamos que um dia viesse para mudar, não para se beneficiar no poder. Mas estamos vivos e a luta continua. Tu no litoral e no direito e jornalismo . E eu no nosso amado teatro. Mas o que vale são as pessoas que somos, fomos e continuaremos a ser.”

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