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Uma crônica para ser recortada e arquivada

Na década de 80, Porto Alegre – sobretudo na região hoje conhecida como Centro Histórico – já se mostrava carente, em locais públicos permitidos para estacionamento, ante a leva de automóveis que, dia após dia, deixavam as revendas e concessionárias.

Iniciava-se aí, não obstante o boom de edifícios-garagem, uma nova praga no “comércio” informal: os flanelinhas!

Naqueles idos, na Rua Dr. Flores, entre as esquinas da Rua dos Andradas e da Avenida Salgado Filho, havia um desses guardadores que recebia em confiança as chaves dos veículos de seus clientes, no decorrer da jornada de trabalho de seus proprietários, ante a “cláusula” de lavação semanal, por óbvio, regiamente paga.

Não por acaso que, das áreas mais disputadas em Porto Alegre, o entorno da Praça da Matriz, sem dúvida alguma, era hors concours. De um lado, a Assembleia Legislativa; de outro, o Theatro São Pedro e o Tribunal de Justiça, com todos os seus Cartórios, Juizados e Tribunal Pleno; num terceiro, a Ajuris, com seu Curso de preparação para a Magistratura; e, por fim, a Catedral Metropolitana e o Palácio Piratini.

As vagas eram “privativas”. Sempre os mesmos e privilegiados motoristas que, ao peso de polpudas gorjetas, garantiam com o seu flanelinha o direito de, ad perpetuam, encontrar à disposição, a qualquer tempo e hora, o estacionamento, em detrimento de outros que, por não aprovarem as “regras” impostas por aqueles profissionais, eram forçados a buscar ou em artérias mais distantes, ou em admitir a escorchante taxa cobrada pelos edifícios-garagem.

Eis que, na desesperada tentativa de amenizar os fatos – o que, de fato conseguiu, haja vista a subida de seus pontos quanto à sua gestão –, a Presidente da República, Dilma Rousseff, questionada acerca da queda de sua popularidade após os protestos nas ruas, respondeu que ela e Lula são “indissociáveis”. E ainda completou, afirmando com todas as letras: “Esse tipo de coisa não gruda, não cola”. Falar em “volta Lula” e tal… Eu acho que o Lula não vai voltar porque ele não foi.

Eis que, de repente, não mais que de repente, surge a tonitruante entrevista de Frei Beto, expoente petista, afirmando se a candidatura de Dilma não decolar, Lula será o candidato à presidência.

O episódio, cada vez mais, me fez vislumbrar Dilma Rousseff como autêntico flanelinha:

– Ô, “tio”, deixa que eu cuide…

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