Uma praça nada vazia (e dados científicos da COVID-19) - Marília Gerhardt de Oliveira - Litoralmania ®
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Uma praça nada vazia (e dados científicos da COVID-19) – Marília Gerhardt de Oliveira

Uma praça nada vazia (e dados científicos da COVID-19) - Marília Gerhardt de Oliveira09 – CIÊNCIA E CULTURA

Marília Gerhardt de Oliveira

UMA PRAÇA NADA VAZIA

(e dados científicos da COVID-19 em estudo do Imperial Collegeof London)

Na sexta feira, dia 27 de março de 2020, o Papa Francisco rezou diante de uma Praça de São Pedro SILENCIOSA.

A imagem impressionou. Lá estava uma Cruz histórica, remanescente de um incêndio na Roma antiga, durante uma peste.

Antes de chegar ao altar, com andar vacilante em meio à chuva, orou pelas almas dos mortos do COVID-19, assim como pelos infectados e pelas PESSOAS, católicas, de outros credos religiosos ou ateus (filhos de Deus como todos nós, assim como o “Filho Pródigo” que um dia pode decidir voltar à casa do pai e ser bem-vindo).

Exemplar, o Jesuíta que adotou Francisco de Assis como nome papal, desde sua primeira aparição pública (“orem por mim”), cresceu ainda mais em sua estatura humana e espiritual, face ao olhar de pessoas de bem no mundo inteiro.

Verdadeiramente, a praça NÃO estava VAZIA.

Na mesma sexta feira, dia 27 de março de 2020, o Imperial Collegeof London tornou públicos números previstos para os desfechos da pandemia em todos os países, nos cenários sem intervenção, com mitigação e com supressão.

Mitigação envolve proteger os idosos (reduzir 60% dos contatos) e restringir apenas 40% dos contatos do restante da população.

Supressão envolve testar e isolar os casos positivos, além de estabelecer distanciamento social para toda a população.

Supressão precoce – implementada em uma fase em que há 0,2 mortes por 100.000 habitantes por semana e mantida.

Supressão tardia – implementada  quando há 1,6 mortes por 100.000 habitantes por semana e mantida.

No Brasil os cenários previstos são os seguintes:

Cenário 1- sem medidas de mitigação:

– População total: 212.559.409

– População infectada: 187.799.806

– Mortes: 1.152.283

– Indivíduos necessitando hospitalização: 6.206.514

– Indivíduos necessitando UTI: 1.527.536

Cenário 2 – com distanciamento social de toda a população:

– População infectada: 122.025.818

– Mortes: 627.047

– Indivíduos necessitando hospitalização: 3.496.359

– Indivíduos necessitando UTI: 831.381

Cenário 3 – com distanciamento social e REFORÇO do distanciamento dos idosos:

– População infectada: 120.836.850

– Mortes: 529.779

– Indivíduos necessitando hospitalização: 3.222.096

– Indivíduos necessitando UTI: 702.497

Cenário 4 – com supressão tardia

– População infectada: 49.599.016

– Mortes: 206.087

– Indivíduos necessitando hospitalização: 1.182.457

– Indivíduos necessitando UTI: 460.361

– Demanda por hospitalização no pico da pandemia: 460.361

– Demanda por leitos de UTI no pico da pandemia: 97.044

Cenário 5 – com supressão precoce

– População infectada: 11.457.197

– Mortes: 44.212

– Indivíduos necessitando hospitalização: 250.182

– Indivíduos necessitando UTI: 57.423

– Demanda por hospitalização no pico da pandemia: 72.398

– Demanda por leitos de UTI no pico da pandemia: 15.432

Os próprios pesquisadores alertam que modelaram essas curvas com base nos padrões de dispersão dos países ricos e que, nos países pobres, os resultados da pandemia podem ser piores do que o previsto. E que esses números previstos não levam em conta a existência de favelas, comunidades sem abastecimento de água e/ou saneamento, entre outros complicadores que existem no Brasil.

Vale comentar que os números reais da pandemia no Brasil, seus casos e óbitos, estarão amplamente subnotificados devido à falta de testes e demora nos resultados. As estatísticas oficiais publicadas pelo Ministério da Saúde mostrarão, infelizmente, apenas a ponta do iceberg.

Mesmo nos melhores cenários, lentificando a transmissão com medidas de isolamento social e aumentando desde já os recursos do Sistema de Saúde, devem faltar leitos de UTI e respiradores para parte dos doentes.

Portanto, a diferença entre ficarmos todos em casa (supressão) ou adotar uma estratégia mais branda de mitigação e proteção apenas dos grupos de risco pode ser da ordem de MEIO MILHÃO de VIDAS.

Os diversos relatórios estão disponíveis no site do Imperial Collegeof London: https://www.imperial.ac.uk/mrc-global-infectious-disease-analysis/news–wuhan-coronavirus/?fbclid=IwAR0GeexFNu6ezOVclPBVW5x3Z3yOn5N1X6siDO5P7ezUOm_UwOUu31RBoAY

Link para o trabalho “The Global Impactof COVID-19 andStrategies for Mitigationand Suppression”: https://www.imperial.ac.uk/media/imperial-college/medicine/sph/ide/gida-fellowships/Imperial-College-COVID19-Global-Impact-26-03-2020.pdf

As tabelas com os números oferecidos constam no apêndice: https://www.imperial.ac.uk/media/imperial-college/medicine/sph/ide/gida-fellowships/Imperial-College-COVID19-Global-unmitigated-mitigated-suppression-scenarios.xlsx

Marília Gerhardt de Oliveira

gerhardtoliveira@gmail.com

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