Usuários de drogas brincam carnaval na Cracolândia, em São Paulo
O Blocolândia desfilou na tarde de hoje (5) no entorno da Estação Júlio Prestes, região central da capital paulista. O grupo reúne usuários de drogas e trabalhadores dos serviços de saúde, assistência social e organizações não governamentais que atuam na área conhecida como Cracolândia. O cortejo saiu da Rua Hélvetia no ponto onde está sediado o Programa Recomeço, do governo estadual, e o De Braços Abertos, da prefeitura, ambos voltados ao atendimento de dependentes químicos.
Os foliões foram animados pela Bateria Coração Valente, formada por participantes do Programa Recomeço. “Eu prefiro ficar aqui, para não ficar usando drogas e bebendo. Evito ficar ali no fluxo”, contou Welington Marciano, um dos membros da bateria. “A gente não sabia nem tocar e hoje podemos fazer esse evento”, disse com orgulho.
Este foi o segundo ano em que o Blocolândia saiu às ruas, uma iniciativa sem apoio institucional, idealizada pelos trabalhadores que lidam diretamente com os usuários de drogas. Educador do Projeto Oficinas, Raphael Escobar explica que, apesar de a organização ser feita pelos grupos que atuam na região, o protagonismo é dos usuários. “Eles vão dando o tom e a gente está aqui articulando para as coisas funcionarem”, enfatiza.
“No carnaval pode tudo. Tem o artista. Tem o pintor. A rua vira uma festa. E até a dor fica pra depois”, dizia uma das marchinhas escritas em parceria entre os trabalhadores e frequentadores da Cracolândia. Pelas esquinas, muitos largavam os cachimbos com a droga e acompanhavam o ritmo batucando em latas ou garrafas de plástico.
Para a coordenadora pedagógica do Projeto Oficinas, que promove educação em direitos humanos, Laura Shdaior, a festa é uma oportunidade de unir as diversas iniciativas que acontecem na região. “O carnaval é uma ótima alternativa para juntar essa rede e deixar o usuário aparecer de uma forma que não seja como doente ou marginalizado”, ressaltou.
Participante do programa De Braços Abertos, que integra usuários a frentes de trabalho, Paulo Sérgio da Silva tirou o uniforme para aproveitar o bloco. Com a roupa de serviço guardada em uma sacola plástica, ele dançava e cantava no ritmo da bateria. “Se não fosse eles, o pessoal aqui não brincava”, disse sobre a importância da iniciativa.
Além de uma opção de diversão, Cícero Rodrigues, conhecido como Índio Badarós, acredita que o bloco é uma forma de passar uma mensagem para o restante da comunidade. “Queremos paz. Brincar em paz e não provocar jamais”, disse. Usuário de crack e morador da Cracolândia, Rodrigues é um artista conhecido pelo trabalho como pintor.
Agência Brasil