Vida & Saúde

Vacina gaúcha contra câncer é esperança

Uma vacina experimental desenvolvida em Porto Alegre colocou os gaúchos na vanguarda de uma nova frente de combate ao câncer, segundo informou o Jornal Zero Hora. Aplicadas em pacientes com tumor de próstata avançado, as doses ativaram o sistema imunológico do organismo, fazendo o tumor regredir ou estacionar em nove dos 11 casos testados. Trata-se da primeira vacina anticâncer patenteada no Brasil, que já começa a ser usada para outros tipos de câncer.

Os resultados da pesquisa do médico e doutor em biotecnologia Fernando Kreutz , em parceria com o Hospital de Clínicas de Porto Alegre, chamaram a atenção da comunidade científica internacional e receberam a chancela para serem publicados na revista especializada canadense Journal of Pharmacy and Pharmaceutics Science. O anúncio da publicação é um sinal de reconhecimento porque significa que a metodologia e os resultados do estudo foram submetidos a avaliação rigorosa de especialistas.

Chamado de imunoterapia, o tratamento com vacinas é um dos campos mais promissores de combate ao câncer. A esperança é de que esse tratamento seja no futuro uma opção às tradicionais quimioterapia e radioterapia. Os testes feitos no Estado mostraram que a nova terapia ativou o sistema de defesa do organismo. Sua aplicação é individualizada: cada paciente recebe a vacina feita a partir do seu próprio tumor.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) considera as vacinas anticâncer como um procedimento médico – e não um remédio – e permite seu uso desde que com acompanhamento especializado. A aprovação da terapia foi possível graças à demonstração de que ela não causa danos à saúde. O presidente da Fundação Sul-americana para o Desenvolvimento de Novas Drogas Anticâncer, Gilberto Schwartsmann, vê a experiência com entusiasmo, mas acredita que ainda é muito cedo para saber se a imunoterapia se tornará um tratamento disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). Hoje, as setes doses da vacina custam, em média, R$ 10 mil, em função de ainda estarem em experimentação:

– Já é um grande passo saber que a vacina não é tóxica, mas ainda temos um longo caminho a percorrer.

Terapia é estendida a outros tipos de câncer

Até agora, os resultados das pesquisas com vacinas anticâncer têm sido modestos. Com exceção da vacina de prevenção do HPV, um dos principais causadores do câncer de colo de útero, os experimentos decepcionaram.

– São ruins os resultados das pesquisas sobre câncer de pele e rins por exemplo – pondera o presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, Naldo Melo de Lima, que também integra as sociedades Americana e Européia de Oncologia.

No caso da experiência gaúcha, a vacina anticâncer se mostrou eficaz com nove de 11 pacientes com tumores de próstata com metástase em uma pesquisa clínica experimental concluída em dezembro. Em quatro deles, a taxa da proteína PSA, que atesta a presença de células cancerosas, foi a zero. Em cinco, o avanço do tumor estacionou. Em dois, o tratamento não teve resultado. A terapia está sendo aplicada também em pacientes com câncer de mama, renais, sarcoma e melanoma.

– Os dados são animadores e um motivo e tanto para continuarmos a estudar – diz Schwartsmann.

Pesquisador criou empresa de ciência
O criador da vacina anticâncer em teste no Estado fez o caminho inverso da maioria dos pesquisadores brasileiros que ganham prestígio internacional. Formado pela UFRGS em 1991, Fernando Kreutz, 38 anos, obteve a cobiçada oportunidade de prosseguir os estudos no Exterior. Doutorou-se em biotecnologia pela Universidade de Alberta, no Canadá, onde tomou contato com os estudos de desenvolvimento de vacinas anticâncer.

Em lugar de reforçar a tendência da fuga de cérebros brasileiros, tomou a decisão de voltar ao Brasil. Em 1999, Kreutz criou na incubadora da Fundação de Ciência e Tecnologia (Cientec) a FK Biotecnologia, primeira empresa de ciência e inovação gaúcha a receber investimento de capital de risco.

No ano seguinte, patenteou a primeira vacina anticâncer brasileira. Passados sete anos, a empresa com sede no Campus do Vale da UFRGS atrai atenções de especialistas no mundo inteiro. Em um artigo publicado em 2005, na revista Nature, a FK foi citada com uma promessa brasileira de inovação em ciência.

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