Veículos elétricos estão em plena ascensão no mercado automotivo brasileiro, e no Rio Grande do Sul o avanço tem sido ainda mais expressivo.
Enquanto o Brasil registrou um crescimento de 77% na frota de veículos elétricos e híbridos em 2024, o Rio Grande do Sul apresentou um salto de 80,6% em comparação com 2023. Esses dados reforçam a tendência irreversível de eletrificação da mobilidade, mas também acendem o alerta para uma série de desafios estruturais, legais e operacionais que ainda precisam ser superados.
Durante o painel do South Summit Brazil 2025, realizado nesta sexta-feira (11), o diretor-técnico do DetranRS, Fábio Santos, destacou que, apesar dos avanços, a realidade exige atenção imediata de autoridades, setor privado e sociedade.
“É necessário pensar fora da caixa e criar regramentos específicos para lidar com o novo cenário automotivo, onde os veículos elétricos representam um divisor de águas”, afirmou.
Fábio apresentou sete pontos críticos que merecem atenção no processo de adaptação da frota: registro de veículos com dois motores, remoção e guarda segura, fiscalização de itens tecnológicos, reaproveitamento e reciclagem de peças, mudanças na formação dos condutores, regulamentação de estacionamentos com carregadores, e protocolos de resgate em acidentes envolvendo eletricidade.
A formação dos motoristas também precisa ser atualizada com urgência. “O condutor de veículos elétricos enfrenta uma nova experiência: ausência de ruído, câmbio automático e aceleração distinta. Essa realidade exige capacitação específica tanto no uso dos recursos tecnológicos como na percepção e planejamento das viagens conforme as estações de recarga disponíveis. A legislação atual não contempla essa transformação”, alertou Santos.
Além das questões práticas e técnicas, o diretor do DetranRS reforçou a urgência de pensar em segurança viária, reeducação dos usuários e, principalmente, infraestrutura para garantir que essa revolução nos transportes seja sustentável e segura.
Para isso, anunciou a criação de um grupo de trabalho no Rio Grande do Sul, com apoio de universidades, Fenabrave, Corpo de Bombeiros, Conselhos Regionais de Engenharia e Agronomia, CFCs, EPTC, Famurs e outras entidades. O objetivo é formular propostas de regulamentações que preparem o Brasil para o avanço dos veículos eletrificados.
Panorama da eletrificação no Brasil e no RS
A frota de veículos elétricos e híbridos no Brasil saltou de 291 mil em 2023 para 515 mil em 2024. Os híbridos, que mesclam energia elétrica com combustíveis como gasolina ou etanol, ainda dominam o mercado, representando 64% do total.
No entanto, os elétricos puros — que utilizam exclusivamente energia elétrica — vêm ganhando terreno, com aumento de quase 100% no último ano.
No cenário gaúcho, os números também impressionam. Em dezembro de 2024, o estado registrava 23.223 veículos híbridos ou elétricos, o que representa 3% da frota total. Desse total, cerca de 70% são híbridos, sendo os mais comuns os modelos elétrico/gasolina (8.782 unidades) e elétrico/gasolina/álcool (5.191).
A frota total do RS cresceu apenas 2,8% no período, o que mostra a força da tendência sustentável.
Tipos de veículos elétricos
Os veículos 100% elétricos se dividem em dois tipos: os de fonte externa, que são recarregados via rede elétrica, e os de fonte interna, nos quais a bateria é alimentada por um motor-gerador acoplado.
No Rio Grande do Sul, 90% da frota elétrica pura é composta por veículos de fonte externa, somando 5.786 unidades. Já os veículos com fonte interna totalizam 668.
A eletrificação da frota traz benefícios ambientais inegáveis, como a redução na emissão de gases poluentes e de ruídos, mas exige do poder público e da sociedade uma resposta rápida, estruturada e colaborativa. O momento é de transição — e os desafios são tão grandes quanto as oportunidades.