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Fontes Hidrotermais

A crosta terrestre é formada por placas tectônicas – dez principais – que, impulsionadas pelo magma incandescente do interior da terra, se afastam em alguns pontos enquanto noutros se sobrepõem. Possuem cerca de 150 quilômetros de espessura, uma ninharia perto dos6.371 quilômetros do centro. Nos pontos em que ocorrem fendas surgem vulcões submarinos por onde a lava emerge e pode inclusive formar ilhas. Quando estas fendas são de diminutas dimensões dão origem ao que foi denominado de “fontes hidrotermais” que se localizam nos “riftes” (locais onde as placas se afastam umas das outras).

As fontes hidrotermais foram observadas diretamente, pela primeira vez em 1977 quando uma equipe de geólogos, ao estudar a zona de rifte das Galápagos, descobriu vários organismos vivos a 3 km de profundidade. Densos agregados de mexilhões, vermes tubulares gigantes e caranguejos foram encontrados em pequenas áreas onde se observava a existência daquilo a que viriam a se chamar chaminés, emanando água quente.

Nas fontes hidrotermais a temperatura da água pode exceder os 100ºC, contrastando com a temperatura das zonas abissais, que é em média 2ºC. As fontes hidrotermais são o resultado da circulação da água do mar pelas fissuras existentes na nova crosta terrestre, à medida que esta se forma nas zonas de rifte. Ao circular através delas, a água do mar aquece a cerca de 350ºC, dando origem a uma complexa série de reações químicas. O sulfato [SO4-(2)], o terceiro íon mais abundante dissolvido na água do mar, quando aquecido reage com a água formando ácido sulfídrico (H2S), o qual, embora tóxico para a maioria dos animais, desempenha um papel central nos processos subsequentes, à medida que a água quente emerge das chaminés.

Nos povoamentos hidrotermais a produção primária é assegurada por bactérias quimiossintéticas, que obtêm a energia necessária para a fixação do CO2 a partir da oxidação dos sulfuretos (e em particular do H2S) presentes nos fumos emergentes. As bactérias desempenham, neste ecossistema, um papel primordial. Invertebrados como os mexilhões e outros bivalves usam-nas como fonte alimentar, enquanto outras espécies estabelecem com estas bactérias relações de simbiose.

A distribuição dos organismos em torno das emanações de fumos hidrotermais vai obedecer às exigências térmicas de cada um deles.

O organismo mais característico do ecossistema hidrotermal é um animal vermiforme e tubícola, de grandes dimensões, o vestimentífero Riftia pachyptila, que forma densos agregados. Na parte anterior do corpo apresenta um órgão guarnecido de finas lamelas dum vermelho intenso. Não possui nem boca nem tubo digestivo, intervindo na sua nutrição bactérias simbiontes, como havia sido referido anteriormente.

Próximo das emanações hidrotermais a altas temperaturas, podem ser encontrados anelídeos poliquetas: os vermes de Pompeia (Alvinella pompejano e A. caudata), que vivem em tubos flexíveis, justapostos e em quantidade considerável. Outro traço dominante, em termos quantitativos, é conferido por densas populações do molusco bivalve Calyptogena magnifica, o maior de todos os bivalves conhecido (26 cm comprimento).

A fauna móvel é sobretudo constituída pelo caranguejo Bythograea thermidon e por numerosas galateas (Munidopsis). Entre os peixes, o mais abundante é o zoarcídeo Thermarces cerberus.

A característica fundamental inerente à possibilidade de existência da vida é sua adaptação aos mais diversos ecossistemas. Encontramos seres vivos nas gélidas calotas polares onde a temperatura baixa a dezenas de graus negativos, nos escaldantes desertos, nos cumes das mais altas montanhas, no ar, na terra e na água. As circunvizinhanças das fontes hidrotermais, contudo, são as mais improváveis. A pressão exercida por mais de 3.000 metros de água que esmigalharia submarinos como se fossem cascas de ovos – só batiscafos e similares construídos com titânio e resinas extraordinariamente resistentes podem se aventurar. Lá encontramos temperaturas que poderiam cozinhar uma lagosta,ácidos letais (H2S) e escuridão absoluta. A vida se faz presente, e mais, quando se estinguem as fontes, ela desaparece. Incrivelmente, apenas subsiste enquanto parece ser impossível.

Refletindo sobre esses extremos, os mais variados e díspares, torna-se fácil e até lógico admitir a existência de vida em outros planetas, devidamente adaptada ao meio ambiente local.

Os dois vídeos que podem ser acessados nos links abaixo nos apresentam imagens impressionantes, mais elucidativas que mil palavras. Vejam em tela cheia para melhor vislumbrar os detalhes.

FONTES HIDROTERMAIS – 7min22seg
https://www.youtube.com/watch?v=rTR6gGDWcJk

FONTE HIDROTERMAL EM GALÁPAGOS – 4min43seg

https://www.youtube.com/watch?v=2FFnrW_SUdM

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