Desapego material: alma leve – Silma Terra
Desapego material: alma leve
Da minha cama eu tinha um bela vista do mangue no Bairro Itacorubi em Florianópolis. Tínhamos chegado a decisão de que não havia mais a possibilidade de permanecer na cidade que tanto amo e me acolhera tão bem. A mudança era inevitável. E lá se vão 10 meses dessa decisão. Saí direto do hospital rumo a Osório, junto dos que a mim são caros e meus pertences conquistados em quase 9 anos de ilha. Para quem chegou com uma bolsa, eu conquistara muito.
Desde então, a preocupação é com meu bem estar, com o tratamento. Aos poucos fomos organizando a casa para que se tornasse o mais aconchegante possível.
Tudo o que eu acumulei está aqui dentro do apartamento. Conforme estamos organizando vemos o quanto temos coisas sem necessidade e sem sentido guardar.
Uma característica humana é o apego, acredito que isso seja inerente, apesar de, que conheço seres especiais que conseguem a façanha de ir descartando quase que mensalmente, filtrando aquilo que já se faz desnecessário e descartando ou doando, são seres livres, os admiro.
Nestes 10 meses aqui, faltava organizar as tantas coisas que estavam em caixas e mais caixas e somente eu poderia fazer a triagem que porventura dependia do meu estado geral para tal.
Enfim, esta semana chegou o momento, afinal a escrivaninha já está no lugar, então vamos organizar.
Conforme ia abrindo as caixas e verificando seu conteúdo, vinha a pergunta: Por que guardei isso meu Deus? Temos a mania de usar os objetos como uma extensão de nós, e nos livrarmos deles seria como arrancar pedaços nossos.
Pacientemente fui separando o que acredito ainda ter interesse como fotos, e ? Alguma coisinha e outra. O restante é lixo. Lixo. Comprovantes de pagamento desde 2013, por exemplo. Nem Deus tem resposta para isso.
Somos felizes acumulando coisas? Eu acredito que não. É meio inconsciente. Mas de repente, nos damos conta que somos acumuladores de objetos que sem eles viveríamos plenamente e não fariam falta.
Estamos em meio a uma pandemia, e nos noticiários se vê a todo instante sobre o número de mortos a cada dia. Pessoas que morrem sozinhas, até o mais básico que seria um velório chorado pela família e amigos é arrancado. Os corpos colocados e sacos plásticos, depois dentro do caixão e imediatamente feito o enterro. Partida sem nada. Então porque acumulamos sapatos, casacos, calças, blusas e uma infinidade de todo tipo de objetos? Patrimônio que servirá para o pagamento de nossa lápide?
O não acumular coisas não significa desinteresse, não ter apego a nada, não dar valor ao conquistado, não. No momento que deixamos ir o sentimento é de uma leveza orgásmica e estamos abrindo espaço para que novidades cheguem à nossa vida.
Eu senti isso ao chegar ao roupeiro. Este me deu até medo. Dentro do meu roupeiro tinham peças guardadas na esperança de emagrecer. Hoje estou tão gorda quando estava com nove meses de gravidez dos meus filhos. Eu não vou emagrecer e se emagrecer, vou querer roupas novas e modernas. Doei muito, malas e o roupeiro ainda é de 8 portas e precisa de nova triagem. Sei que tenho casaco que não entra no braço, então por que está ali?
Este sentimento de leveza se seguiu ao fazer a triagem nas minhas caixas. Após passado a perplexidade do tanto que juntei nos últimos anos, corajosamente fui descartando. Parece que matei a metade das árvores da Amazônia tamanha a quantidade de papeis. Passando os olhos fui somando o quanto já efetuei em pagamentos, sacudi a cabeça, nem quero pensar.
Acredito que o que me falta é o bom senso para saber a hora de dizer adeus àquele objeto. Eu tinha um armário rústico que usei muito como sapateira. Ele é enorme e eu enchia de sapatos. Sim, imagine a quantidade de sapatos que eu possuía. Agora aqui não tinha mais espaço para ele. Custei a tomar a decisão, mas enfim postei numa rede social a venda. Em menos de 30 minutos apareceu interessada. Ela feliz da vida disse que tinha lugar pra ele e que seria de muita utilidade.
Sempre tive um verdadeiro amor pelos livros, tanto que minha graduação é em Biblioteconomia, portanto tenho muitos, muitos livros. Já tem vários separados para doação para o Espaço Cultural Casa do Conde.
De repente surgiu aos meus olhos uma toalhinha, minúscula que ganhei de uma amiga quando fui na Rede Globo, no programa da Ana Maria Braga. Nossa amiga Ruthinha fez uma para cada uma da Galera do Chat, como é chamado nosso grupo que existe até hoje. Já são mais de 15 anos que guardo esta toalhinha bordada em ponto cruz e que tem muitos significados, como união, amizade, carinho, generosidade. Esta ficará comigo ate o final e depois, meus filhos vão saber dar o fim nela.
Sim, despedir-se do que não usamos e ocupam espaços preciosos da nossa casa não é fácil. Pense que aquele objeto que está ocioso pode ajudar alguém. Não tenha medo, você não vai precisar mais dele e se precisar poderá adquirir novamente. Esqueça o ditado ou crença limitante que diz: Quem dá o que tem, pedir vem. Ao abandonar coisas que não têm mais valor ou utilidade, sua essência aparecerá. Vamos para uma vida nova, com foco longe dos bens materiais, acredite nós seres humanos, somos seres adaptáveis a qualquer lugar e ambiente. Tudo o que nos cerca tem energia e toda energia parada está sendo desperdiçada. Eu garanto que com os armários e roupeiros mais livres você vai aproveitar muito mais as roupas e objetos que sobraram e entender melhor o que realmente falta para que você seja mais feliz.
O saco de lixo de 50 litros foi enchendo, enchendo e no final o que separei para continuar comigo ocuparam apenas algumas gavetas. Estou leve, com minha alma leve.
#teatirapravida
Silma Terra
Palestrante Motivacional, comunicadora de rádio e televisão, Youtuber e Bibliotecária de formação.
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