Vox populi, vox dei – Jayme José de Oliveira
PONTO E CONTRAPONTO- por Jayme José de Oliveira
“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.
VOX POPULI, VOX DEI
Esta alegoria já era conhecida pelos gregos antes da era cristã. Tito Livio (59 a.C. – 17 d.C.), historiador romano, em sua obra “Ab Urbe Condita”, a História de Roma a citava. Nicolau Machiavelli de Florença em sua obra mais famosa, “O Príncipe”, aconselhava os poderosos como ganhar e preservar o poder. Etc.
É uma falácia e, num debate com quem usava o argumento para coonestar despautérios de governos recentes contestei:
“Se a voz do povo é a voz de Deus Pilatos agiu corretamente ao libertar Barrabás e mandar crucificar Jesus”. Esta falácia é paradigmática, um enunciado falso que, entretanto, simula a verdade. Um sofisma.
Em 2002 a dívida externa+interna do Brasil (federal, estadual e municipal) era de R$ 852 bilhões,acumulada em 180 anos, desde a Independência do Brasil. Em 2018, catapultou para R$ 4,25 trilhões, (Zero Hora, 28/02/2020). O AUMENTO EXTRAPOLADO SE VERIFICOU EM 16 ANOS. Se “voxpopuli, vox Dei” exprimisse o correto este fato que remete às futuras gerações um ônus exorbitante seria admitido sem tergiversações nem revolta. O recrudescimento da inflação (que tanto tempo nos esgoelou) está à vista logo adiante, será um efeito secundário e terrível da irresponsabilidade nefasta.
Bolsonaro, o presidente atual, afirmou (um dia após apoiar as manifestações pedindo o retorno do AI-5) ter sido eleito pelo povo e,portanto,representa a Constituição (???).
Vire a página e reflita comigo sob um ângulo peculiar: “A maior dificuldade em decidir ocorre quando ambos os lados têm razões indiscutíveis”. Lembro uma passagem de um livro de Paulo Coelho “Na Busca da Verdade” (não sou fã dele):
Andavam pelo deserto Maomé e um discípulo quando avistaram, ao longe, um vulto largar algo na beira do caminho. Curioso o discípulo perguntou:
– Mestre, quem é e o que está fazendo?- É o diabo e espalha fragmentos da verdade.- Então ele não é tão mau assim.- Engano seu, é o que ele quer sugerir. Largando esparsos fragmentos da verdade, cada vez que alguém encontrar um deles ficará convicto que possui o todo e defenderá com empenho a sua VERDADE, repelindo e combatendo os que recolheram outros fragmentos. O contraponto será rejeitado com intensidade e não haverá acordo possível. Cada um defenderá seu fragmento e não haverá acordo possível, o caos se estabelecerá.
Mutatis mutandis, é o que ocorre no Brasil no momento atual.
Primeiro fragmento da verdade: a Economia não pode parar senão o país soçobra. Segundo: o isolamento social é necessário para impedir a propagação da catástrofe provocada pelo vírus.Com quem ficamos? A quem dar ouvidos e fé?
Os latinos já tinham a resposta: “in médio statvirtus”, no meio está a virtude. Não podemos paralisar todas as atividades, seria determinar o caos econômico, muito menos permitir aglomerações irresponsáveis… a vida é o bem maior.
A AUTORIDADE (assim mesmo, com letras maiúsculas) com a “caneta”, discernimento e inteligência saberá dosar as providências. E, para ser justo, imparcial, coerente, estabelecerá a quantia certa para cada caso. O mesmo critério não poderá ser aplicado para São Paulo e para municípios de baixa população e sem recursos. Os parâmetros de população com risco de contágio, comportamento dos populares, etc., são díspares. Portanto… É neste momento que se conhece “quem tem farinha no saco”, sabedoria e, acima de tudo, coragem para adotar providências, mesmo que amargas e impopulares.
“Um político pensa na próxima eleição; um estadista, na próxima geração”- James Clarke
Jayme José de Oliveira
Cirurgião-dentista aposentado
cdjaymejo@gmail.com