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Feira, livros, filhos…

Contava oito anos de idade quando meu pai me levou na Praça da Alfândega, em Porto Alegre, para me apresentar a uma linda e promissora jovem.
Para o encontro, minha mãe teve cuidados com que eu vestisse a roupa domingueira. Afinal, seria o primeiro de incontáveis encontros que, dali para diante, se sucederiam nas já percorridas cinqüenta primaveras.

Foi amor à primeira vista, de quem nunca mais me divorciei. Com o tempo, o mútuo sentimento não apenas transformou-se num amor estável, maduro, sobretudo compartilhado. A cada ano, à medida que crescia e se tornava mais bela, a Feira do Livro de Porto Alegre acolhia mais e mais apaixonados. De minha parte, desde o primeiro Monteiro Lobato – O Minotauro – até Sigmund Freud – A Interpretação dos Sonhos –   último exemplar lá adquirido, permiti-me conhecer outras Feiras.

Fiz o mesmo com meu filho quando este saboreava os seus álacres cinco anos. Compramos, naquela Feira, um pequeno livro de poemas do Mário Quintana, apesar de que o deslumbre dele, naquele sábado ensolarado, era todo para a Bruna Lombardi. Mas os livros, para ele, também falaram mais alto.

Caminhei, nesta quarta-feira, pela Praça da Catedral, onde já se erguem as primeiras bancas para a Feira do Livro de Osório. Talvez os pensamentos acima afloraram em razão do descompromissado passeio por entre ferros e madeira que vão dando forma à Feira. Vieram-me remembranças de minhas relações com o homem afetivo e interessado que fora meu pai. De sua casa saí apenas no dia em que casei. Pouco tempo mais tarde, aos cinqüenta e seis anos, ele partiu.

Com o passar dos anos, e ante a fragilidade da saúde, minha mãe tornou-se dependente para seus deslocamentos. Mantivemo-la, meu irmão e eu, sob nossos constantes cuidados e atenções até onde entendemos ter sido o seu limite máximo. Hoje ela se encontra, e muito bem, numa clínica geriátrica. Nesses dois anos – e em horas incertas – jamais a encontrei indisposta.

Sempre asseada, perfumada e cuidadosamente alimentada.
A selvagem e desmedida competição no mercado de trabalho transformou o homem num ser robotizado, frio; um ser que arquivou nos escaninhos mais recônditos de sua alma os afetos.  Não há tempo para uma visita, um churrasco de fim de semana. Não há tempo, sequer, para apanhar o telefone e saber se tudo está bem.

Não nos magoemos. Não nos sintamos, os descompromissados, esquecidos. Certamente, não são esses os sentimentos. Tudo virá no seu tempo certo, assim como será o nosso encontro, meu caro leitor e minha generosa e atenta leitora, na Feira do Livro de Osório, neste sábado, às 16:30h, onde nos abraçaremos, faremos um brinde à vida e falaremos sobre o Mar da Serenidade.

O meu livro.

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