Delalves Costa, um poeta a afrontar a enfinge II - Litoralmania ®
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Delalves Costa, um poeta a afrontar a enfinge II

Parte II – Resenha comentada – Luis Nicanor

O poema Sexo das Marés exige uma transcrição:

Nos pés, calço reflexo de Lua…
Sonolento, luz a derramar-se.
Nos olhos inexistem pegadas
– só os passos indecifráveis.
O mar contempla esbanja
a vida loucamente…
A luz de amor flutua
ao encontro da gente.
Ouço dos espirais o sexo das marés
– canção a embalar carícias ao vento.

Aí… movediço e breve, os espirais
– dois mundos (descalços!)
avessos de céus
indecifráveis no sexo das marés…

A abertura do poema: Nos pés, calço reflexo de Lua… O poeta se declara caminhando na beira do mar, sonolento, a luz a derramar-se, dentro da água, na maré, naturalmente produzida pela Lua. O que calça seus pés é a Lua, ou melhor, o luar, reflexo que a Lua produz. Nos olhos inexistem pegadas…

A maré leva tudo, o poeta passa mas não deixa pegadas, apenas passos indecifráveis. Na volta ou série de voltas das ondas, dos espirais, o poeta ouve o sexo das marés, embalado pelas carícias do vento. Mas os espirais são movediços e breves, avessos de céu.

Embora a luz do amor flutue ao encontro da gente, os espirais são dois mundos (descalços!) indecifráveis no sexo das marés. O aumento das águas, (o mar contempla esbanja / a vida loucamente) o avanço e o recuo, o movimento fisiológico do sexo.

No poema FLOR-POEMA (LENÇOL DAS FLORES AMARROTADAS)

Esta passagem:

Torpe… A rua nos braços da noite,
os relógios do seio, acelerados…
Adolescendo no coito das línguas,
à vergonha das roupas…
o fôlego a delirar estrelas!
Às tenras curvas do pecado
Dois corações às brasas…
– incandescentes, de seios
à saliva  dos hormônios
e lábios na febre do tato.

O poeta abre o poema perguntando a si mesmo se acredita na flor-poema e vai enumerando exemplos. O citado é um deles.
Não precisa muito esforço para imaginar dois precoces adolescentes a iniciarem-se na arte do sexo, os relógios dos seios acelerados, pela pressa e pela ânsia da novidade.

O coito que começa com as línguas à vergonha das roupas, (o fato de assumir a nudez), o fôlego a delirar estrelas, o tato dos lábios, pela febre dos hormônios às tenras curvas do pecado.

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