bem-estaredicasesaúdeSaúde & Bem-estarsaúde mental

Veja como identificar a violência verbal no relacionamento

A violência nos relacionamentos abusivos nem sempre é evidente. Muitas vezes, ela se manifesta sutilmente, especialmente no âmbito da comunicação. Quando falamos em violência verbal, a primeira imagem que pode vir à mente são os xingamentos e ofensas explícitas.

No entanto, essa forma de agressão se apresenta de diversas maneiras, incluindo gritos, deboches, imitações e até mesmo o tom de voz usado em determinadas situações. E o mais preocupante: como não deixa marcas físicas, costuma ser ignorada ou minimizada.

Palavras também fazem mal

É importante compreender que a violência verbal não se limita às palavras duras ditas em momentos de raiva. O deboche constante, o menosprezo disfarçado de piada e a ridicularização dos trejeitos e das falas da outra pessoa são formas de descredibilização que minam a autoestima e o bem-estar psicológico da vítima.

Pequenos gestos, como risadinhas sarcásticas e expressões faciais de desdém, também carregam um impacto emocional significativo. Além disso, frases como “você nunca faz nada certo”, “ninguém mais te aguenta” ou “se eu fosse embora, você não conseguiria nada sozinha” são exemplos de violência verbal mascarada como “opinião” ou “sinceridade”. Comentários depreciativos e manipuladores, quando repetidos ao longo do tempo, fazem com que a vítima internalize essa narrativa e passe a duvidar da própria capacidade.

“Eu sou assim” não é desculpa

Muitos abusadores se justificam dizendo que “são assim”, que “falam alto mesmo” ou que “não tem intenção de ofender”. No entanto, quando a comunicação de alguém ultrapassa os limites do que o parceiro considera aceitável, isso se torna uma forma de violência. Não importa se outras pessoas toleram determinado comportamento — se você se sente ferida ou humilhada, isso deve ser levado a sério.

Esse tipo de manipulação se encaixa no que chamamos de gaslighting, uma estratégia de abuso psicológico na qual a vítima é levada a questionar sua própria percepção da realidade. Quando você diz que algo a machucou e ouve em resposta “você está exagerando”, “isso é coisa da sua cabeça” ou “nossa, agora não posso mais nem brincar”, é um sinal de alerta.

Estabelecer limites dentro da relação é fundamental para evitar esse tipo de violência (Imagem: SeventyFour | Shutterstock)

Como estabelecer limites

Estabelecer limites é fundamental. Expressar claramente o que é ou não aceitável na relação pode ser um primeiro passo para evitar a normalização dessas agressões. Se, após essa conversa, a pessoa insiste em ultrapassar esses limites, o problema não está em você ser “sensível demais” ou “não saber lidar com brincadeiras”, mas, sim, em uma dinâmica abusiva que precisa ser interrompida.

Em um relacionamento saudável, as pessoas ajustam sua forma de se comunicar para respeitar os sentimentos do outro. Se alguém continua a agir de forma agressiva e desrespeitosa mesmo após ser avisado, isso não é “jeito de falar” — é falta de consideração e abuso emocional.

Violência verbal é real e deixa marcas

Casos de violência verbal têm sido cada vez mais debatidos, especialmente com o aumento da conscientização sobre relacionamentos abusivos. Dados recentes do Fórum Brasileiro de Segurança Pública indicam que, em 2024, 67% das mulheres relataram ter sofrido algum tipo de violência psicológica ou verbal em relacionamentos.

A banalização dessas agressões leva muitas vítimas a acreditarem não haver problema em serem constantemente desrespeitadas e invalidadas. O abuso verbal pode não deixar hematomas visíveis, mas seus efeitos emocionais e psicológicos são profundos.

O silenciamento da vítima, a insegurança constante e a destruição gradual da autoestima são consequências graves desse tipo de violência. Muitas mulheres saem dessas relações com crises de ansiedade, depressão e um medo permanente de errar.

Rompendo com o relacionamento abusivo

Por isso, identificar e nomear essas agressões é um passo essencial para rompê-las. Romper com um relacionamento abusivo nunca é simples, mas é necessário para preservar sua saúde emocional. Se você reconhece esses sinais em seu relacionamento ou no de alguém próximo, busque apoio.

Conversar com amigos, familiares e procurar ajuda especializada pode ser determinante para sair desse ciclo. O Ligue 180, canal de denúncia de violência contra a mulher, pode ser um primeiro passo; além disso, procure redes de apoio e organizações que acolhem vítimas de relacionamentos abusivos.

Lembre-se: respeito e diálogo saudável são pilares de qualquer relação. Você não precisa — e não deve — aceitar menos do que isso.

Por Mayra Cardozo

Receba as principais notícias no seu WhatsApp

Terapeuta e advogada especialista em gênero e sócia do escritório Martins Cardozo Advogados Associados. Idealizadora do método Alma Livre, criado para auxiliar mulheres a saírem de relacionamentos tóxicos e abusivos.

Comentários

Comentários