Dificultar a passagem do sangue pelas veias é o que torna a trombose tão perigosa. Por trás de sintomas que muitas vezes passam despercebidos, a doença é capaz de evoluir de forma silenciosa e atingir órgãos vitais, exigindo diagnóstico rápido e cuidados contínuos.
Embora seja mais comumente associada a pessoas idosas ou com mobilidade reduzida, a condição passou a ser diagnosticada com mais regularidade entre jovens adultos e até mesmo adolescentes. Mesmo indivíduos saudáveis, sem histórico clínico relevante, estão entre os novos casos.
O alerta para essa mudança no perfil de risco vem do cirurgião vascular e membro da Comissão de Síndromes Venosas Obstrutivas e Congestão Pélvica da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular – Regional São Paulo (SBACV-SP), Dr. Fabio Rossi, que tem observado essa tendência com preocupação. “A população mais jovem precisa compreender que a prevenção começa antes da doença”, enfatiza.
Diversos elementos contribuem para o surgimento da trombose, e muitos deles estão cada vez mais presentes no cotidiano de jovens e adolescentes. O sedentarismo, especialmente em pessoas que passam longos períodos sentadas, a obesidade, o uso de anticoncepcionais ou hormônios, o histórico familiar da doença, cirurgias recentes, doenças crônicas como câncer e cardiopatias, o consumo de cigarro e a desidratação são fatores diretamente ligados à formação de coágulos.
Tipos mais comuns de trombose
O tromboembolismo venoso (TEV) representa a manifestação mais recorrente da trombose e envolve dois quadros principais: a trombose venosa profunda (TVP) e a embolia pulmonar. “A TVP afeta, na maioria das vezes, as veias profundas das pernas. Mas quando o trombo se forma mais próximo à virilha e tem um maior volume, o risco de ele se soltar e atingir os pulmões é maior. Isso pode provocar uma arritmia, parada cardiorrespiratória repentina e até o óbito”, explica o Dr. Fabio Rossi.
A trombose do sistema venoso superficial, por sua vez, ocorre com mais frequência após a administração de medicamentos por via endovenosa, principalmente nos braços. Embora cause dor e inflamação, costuma ser considerada de menor gravidade. Quando acomete as pernas, pode indicar doenças subjacentes e deve ser investigada com atenção. As varizes nesses membros aumentam o risco de tromboflebite e de trombose venosa profunda; por isso, devem ser investigadas e tratadas.
Sintomas da trombose
Identificar os sinais precocemente pode evitar desfechos graves. A trombose venosa profunda costuma provocar inchaço repentino em uma das pernas, dor persistente — especialmente na panturrilha —, alterações na cor da pele (como vermelhidão ou tom azulado) e sensação de calor na área afetada.
A embolia pulmonar se manifesta com falta de ar, dor aguda no peito, tosse com presença de sangue e batimentos cardíacos acelerados. Entretanto, nem sempre os sintomas são exuberantes, e não é incomum que a embolia pulmonar seja confundida com infarto, pneumonia e até mesmo crise de ansiedade.
Para confirmar a suspeita, o exame mais indicado é o doppler venoso colorido, um tipo de ultrassonografia que identifica a presença de trombos nas veias profundas e superficiais. A maioria dos consultórios vasculares já dispõe dessa tecnologia. Em casos que envolvem os pulmões, o diagnóstico exige tomografia computadorizada, realizada em centros especializados.
Prevenindo a trombose
Segundo o Dr. Fabio Rossi, o combate à trombose começa com a conscientização da própria necessidade de movimento. “Todos devemos nos movimentar — e isso deve começar ainda na adolescência. É fundamental que esses hábitos sejam transmitidos aos nossos filhos, para que desenvolvam, desde cedo, a consciência da importância da atividade física e da alimentação equilibrada”, orienta.
Manter uma rotina com exercícios regulares, ingerir bastante água, evitar bebidas com cafeína, parar de fumar, utilizar roupas confortáveis, não cruzar as pernas por muito tempo, usar meias de compressão em viagens longas e observar qualquer sinal incomum no corpo são atitudes simples que fazem diferença. Em caso de suspeita, a avaliação com um médico vascular deve ser imediata.
Tratamentos para a trombose
Na maioria dos casos, o tratamento da trombose envolve o uso de anticoagulantes orais, e dispensa a necessidade de internação. Quando a trombose se apresenta de forma mais agressiva, pode ser necessária a internação e, nos casos mais graves, o uso de medicamentos trombolíticos ou até mesmo procedimentos por cateter, que permitem a remoção ou fragmentação do coágulo com precisão e menor risco de hemorragias.
“O avanço das técnicas e a sofisticação dos equipamentos tornaram o tratamento mais seguro e eficiente. Mas tudo depende da agilidade com que o paciente busca ajuda e é feito o diagnóstico. Tempo é fator determinante”, ressalta o especialista.
Além da atenção individual, o Dr. Fabio Rossi reforça a importância de políticas públicas, pesquisa de dados regionais e capacitação de profissionais de saúde. “Precisamos conhecer melhor a incidência do TEV no Brasil, identificar as formas mais frequentes de manifestação e capacitar médicos generalistas para reconhecer casos críticos. Só assim conseguiremos evitar mortes e reduzir os impactos físicos, emocionais e econômicos que a trombose impõe às famílias e ao sistema de saúde”, finaliza.
Por Elenice Cóstola