Crescimento responsabilidade
E o que aconteceu com a bolsa essa semana? Ela caiu! Pois é, quem dá a cara à tapa muitas vezes acaba levando uma bela bofetada. Infelizmente, tivemos mais uma semana de baixa nos mercados, por isso achei pertinente discorrer sobre o que vem afligindo aquela que, em outras colunas, chamei de uma “Diva geniosa”. Mas antes de falarmos de assuntos sérios, é sempre bom divagar sobre as questões da vida, vocês não acham?
Uma das memórias bucólicas da minha vida é minha insatisfação com a minha condição de ser criança. Engraçado, não? Os mais velhos diziam: “como é bom ser criança”, “não ter responsabilidades”, “não ter com o que se preocupar”. E eu pensava: “não sabem de nada, odeio ser criança, ter que dar satisfação de tudo!” Mas de fato, hoje vejo que estava errado. É sim, muito bom ser criança. Isso porque crescer e ganhar liberdades exige que assumamos responsabilidades. Temos que tomar decisões que afetarão toda a nossa vida – profissão, casamento, filhos, etc. Temos também aquelas coisas corriqueiras – é a conta de luz, do gás, aluguel, trocar de carro, viajar ou economizar, etc.
Da mesma forma, o crescimento de uma economia gera uma série de responsabilidades, até para própria manutenção e sustentabilidade deste crescimento ao longo de anos. Pois bem, nossa economia vem crescendo a passos largos e vai muito bem. No entanto, acredito que em termos de política monetária atingimos uma maturidade que nos faz hoje, ficar atentos as responsabilidades inerentes ao crescimento.
Essas responsabilidades podem ser as causas desse fraco desempenho da bolsa nessas últimas semanas. O mercado tem se mostrado preocupado e receoso com as medidas que o BC brasileiro vem adotando e que poderá adotar como forma de controle da inflação e de limitações ao crédito. Cabe aqui mencionar que isso mostra que o Banco Central está de olho na saúde de nosso crescimento, tentando evitar os efeitos nocivos da inflação e de uma possível bolha imobiliária. Entretanto na bolsa, a idéia por trás disso é a de que inflação e juros mais altos comprometam o poder de compra dos consumidores e consequentemente afete os resultados das empresas. Por isso vemos que as ações de construtoras, consumo e de bancos são as mais afetadas com essas medidas.
Isso tudo na verdade é um grande exercício de suposição e estimação, uma vez que o crédito e as vendas dessas empresas, ao menos por ora, não foram afetadas. No entanto, é exatamente disso que a bolsa vive, de expectativas futuras e, sendo assim, com a perspectiva de um cenário não tão promissor como outrora, muitos investidores preferem reduzir sua exposição e a bolsa acaba caindo.
Semelhantemente o Dragão Chinês que tem sido o motor de crescimento da economia também tem se mostrado preocupado com o excesso de otimismo e crescimento. Por lá a discussão é parecida: inflação, perspectiva de aumento de juros e risco de bolha imobiliária. Adicionalmente a China tem sido um ávido consumidor de commodities e isso ajudou a impulsionar os preços desses produtos (soja, milho, algodão, café, minério de ferro, cobre, entre outros), que em geral tiveram uma alta de mais de 25% em 2010. Num mundo altamente globalizados, de iPod´s, iPhone´s, iPad´s, todo esse apetite chinês faz com que as autoridades digam: “ai meu Deus!” Isso porque esse aumento de preços acaba impactando os outros países e gerando inflação pelo globo afora.
A forma de atuação do governo chinês contra isso é com controles monetários que também reduzam o nível de atividade para patamares que eles considerem mais saudáveis. Controles monetários e redução do nível de atividade podem reduzir os resultados das empresas, sendo assim, o mercado se antecipa. Soma-se a isso alguns indicadores fracos nos EUA e resquícios de dúvidas quanto a solvência de alguns países no continente europeu e pronto, você tem um cenário ruim para Bolsa.
Apesar de tudo isso não retiro meu viés otimista de longo prazo com nossa bolsa. Na economia, assim como na vida, crescer com responsabilidade é algo natural e que exige certos ajustes e certas adequações. O importante é que estamos avançando e não retrocedendo, pois já não somos mais crianças.
Analista da XP Investimentos