Brasil ainda vai levar 20 anos para erradicar analfabetismo
A análise do Ipea indica que há “baixa eficácia” nos programas de alfabetização. “Entre os atuais analfabetos, apenas uma pequena parte está frequentando a escola.”
O texto afirma que há “problemas de desinteresse dos analfabetos em procurar os programas” e também “erro de foco”, de “estratégias pedagógicas” e “sérias dificuldades de aprendizagem” dos alunos do ensino de jovens e adultos.
“É uma população difícil de lidar porque grande parte é mais velha e já está há muito tempo no mercado de trabalho”, explica Jorge Abrahão de Castro, autor do estudo e diretor de Estudos e Políticas Sociais do Ipea.
“As pessoas analfabetas fazem parte daquele enorme time da população com quem há uma dívida enorme. Não foi investido em educação o que precisava nos anos 50, 60 e 70, e essas pessoas tiveram dificuldade de acesso à escola”, aponta o diretor.
Em entrevista à Agência Brasil, Jorge Abrahão disse que acredita que o analfabetismo “pode ser reduzido por efeito de política pública”, mas no texto que assina explica que até o momento o analfabetismo só sofreu quedas por causa da mudança na composição da população e da morte de pessoas mais velhas analfabetas.
“A queda do analfabetismo se processa fortemente pelo efeito demográfico e menos pelas iniciativas do governo ou da sociedade civil. Portanto, a queda do analfabetismo está ocorrendo pela escolarização da população mais nova e pela própria dinâmica populacional, com a saída dos idosos analfabetos [morte]”.
Segundo os dados analisados, a taxa de analfabetismo atinge 10% da população, 7,2 pontos percentuais a menos do que em 1992. O percentual é considerado elevado na comparação com outros países latino-americanos como o Chile, a Argentina e o Equador. A taxa de analfabetismo é maior na parcela um quinto mais pobre da população (19%), no Nordeste (19,4%), na área rural (23,5%), entre pretos e pardos (13,6%) e com mais de 40 anos (16,9%).
A desigualdade verificada na raiz do analfabetismo também é constatada em outros níveis de ensino, como por exemplo a educação infantil. A taxa de frequência à creche entre crianças de 0 a 3 anos é de 18,1% e menos de 80% dos meninos e meninas de 4 a 6 anos frequentam a pré-escola. Na faixa etária da creche, a frequência é menor entre as crianças da Região Norte (8,4%); pretas e pardas (15,5%); do meio rural (7,2%) e entre os mais pobres (10,7%).
Mesmo no ensino fundamental, onde o acesso à escola é considerado universal (97,9% das crianças e adolescentes de 7 a 14 anos frequentam bancos escolares), o Ipea sublinha o “hiato” do sistema educacional brasileiro no século 21. “A eficiência sistêmica deixa muito a desejar”, assinalou Jorge Abrahão, apontando que apenas 55 em 100 alunos que concluem o ensino fundamental estão na idade adequada (9º ano, com 14 anos de idade).
Para Jorge Abrahão a chamada “defasagem idade/série”, causada pela reprovação e retenção dos alunos, afeta a autoestima de quem fica na escola e aumenta os gastos com educação. “Os estudantes permanecem no sistema além da idade prevista e do tempo necessário para conclusão, reduzindo a quantidade de recursos disponíveis para aqueles alunos que avançam normalmente e de acordo com a sua idade”, aponta o estudo.
Além da educação, a análise do Ipea sobre os microdados da Pnad também tratou de gênero e ocupação (trabalho doméstico) e migração. <!– .replace('
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