Presença da mulher na política gaúcha ainda é tímida
O fato de ser mulher influencia a atuação das parlamentares. “Trabalho para que as mulheres sejam inseridas em um processo de desenvolvimento que lhes dê condições de sobrevivência, sem políticas assistencialistas”, declara Leila. A deputada lançou uma cartilha informativa sobre os malefícios das drogas, e considera que a mulher é fundamental no combate ao problema. “As mães, muitas vezes sem informação, só se dão conta de que os filhos estão envolvidos com drogas quando é tarde demais”, lamenta Leila, ela mesma mãe de quatro filhos e avó de dois netos.
Silvana afirma que não foca seu trabalho exclusivamente nas questões de gênero, mas admite as diferenças. “É inegável que nós temos uma sensibilidade diferente dos homens. Além de deputada, sou mãe, e procuro dar exemplo para meus filhos também com o meu trabalho. Encaro o meu mandato com o mesmo cuidado que tenho com minha casa. Essa dedicação é própria da mulher, e por isso é preciso incentivar cada vez mais as lideranças femininas a buscarem seus lugares não só para cargos legislativos, como para cargos executivos”.
“No exercício da política parlamentar e executiva, ser mulher não basta”, rebate Marisa. A deputada petista aproveita para criticar: “O governo do estado, que está pela primeira vez nas mãos de uma mulher, pela maneira como está sendo administrado, não nos orgulha”. Stela concorda com a colega de partido: “Penso que não basta ser mulher para fazer diferença na política, tão carente de bons quadros, mas acredito que uma sociedade melhor só pode ser construída com a participação equilibrada de homens e mulheres”.
Machismo ainda impera
As cinco parlamentares, que representam três partidos distintos, deixam as diferenças ideológicas de lado quando o assunto é a fraca presença feminina na política gaúcha. A maioria aponta a questão cultural – leia-se o machismo – como o grande obstáculo a ser vencido. A voz dissonante foi de Zilá. “A política ainda é o mundo dos homens, mas não vejo que exista preconceito para a participação feminina; o que limita a atuação das mulheres são seus afazeres particulares, principalmente o tempo dedicado ao cuidado com a família”. A deputada reconhece, entretanto, que as conquistas femininas no mercado de trabalho não têm se refletido na política partidária.
“Nós ainda ocupamos pouco espaço nos cargos eletivos”, preocupa-se Silvana. “Na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, somos apenas 10% em relação ao número de deputados homens”, analisa. “E veja que a população feminina no Estado é maior do que a masculina”. As parlamentares também são unânimes em exortar as mulheres a conquistarem espaço dentro dos partidos e não serem apenas coadjuvantes no processo político. “As mulheres têm grande participação em conselhos escolares, em associações de bairros, em entidades, e mesmo na política enquanto assessoras. O que falta é elas se imporem mais e apoiar o próprio gênero para ter mais representantes”, resume Silvana.
Stela compara o Legislativo com outros Poderes do estado. “A participação feminina nos espaços de representação é muito tímida, diferente de outras áreas da vida pública, como no Judiciário”. A deputada alerta para o lado perigoso da cultura machista. “A violência contra a mulher não acontece somente nos lares, na vida doméstica, mas tem se reproduzido nos espaços públicos, muitas vezes por aqueles que deveriam ser os primeiros a dar o exemplo”.
Mãe de cinco filhos e avó de seis netos, Zilá oferece alguns conselhos para quem quer se aventurar na política. “As mulheres devem participar das atividades comunitárias, buscar espaços e valorizar-se, pois não há idade para começar, apenas vontade, o resultado vem com o trabalho”.
Marisa, com três filhos e avó recente, encerra com uma mensagem de otimismo. “Tenho esperança, e trabalho para isso, de que a igualdade de direitos e a participação feminina na vida pública aumentem”. Mesmo com os obstáculos a serem vencidos, acredita em vitória das mulheres: “Somos vitoriosas por que estamos superando as barreiras culturais que nós mesmas ajudamos a construir.”
* Reportagem: Claudia Paulitsch, Neiva Borges e Andrei Fialho, com colaboração das assessorias de imprensa dos gabinetes. Texto final: Sheyla Scardoelli