Quintanares
Sempre que me sinto vilipendiado, aviltado e esbofeteado pela torpeza dos humanos, pela irreflexão de atos dos poderosos – em todas as esferas –, consola-me, só um pouco, os versos de Quintana:
“Da vez primeira que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha…
Depois de cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha…
E hoje, dos meus cadáveres, eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada…
Arde um toco de vela amarelada…
Como o único bem que me ficou!
Vinde, corvos, chacais, ladrões de estrada!
Ah! desta mão, avaramente adunca,
Ninguém há de arrancar-me a luz sagrada!
Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz, trêmula e triste como um ai,
A luz do morto não se apaga nunca!”