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Desenredando os afetos

Não sei, ao certo, em que ano, ou mesmo em que século eu deveria ter nascido. Tenho somente a certeza de que não poderia ter sido nos meados do Século XX; “cheguei” depois dos Beatles e antes da pílula anticoncepcional, via de consequência, anteriormente à explosão vulcânica da liberdade sexual.

Seriamente falando, de nada importaria o dia, o mês, o ano ou o século que neste louco e desvairado planetinha eu aportasse. Está gravado em meu ser este indelével estigma, esta perene cicatriz, este sempiterno sinal: estar mais próximo, junto, muito perto dos meus afetos.

Apego? Imaturidade? Egoísmo? Síndrome de Peter Pan? Ou tudo isso, não necessariamente nesta ordem?

A História tem nos dado, desde as mais remotas eras, notícias do homem, ainda que ser gregário, aventureiro, nômade muitas vezes, mas definitivo na instintiva busca de novas fronteiras, desconhecidos cenários. Então, por que pensar ou sentir diferente?

Meu pai – e seus dois irmãos de igual forma –, ainda adolescente, deixou a mansuetude e o remanso da pequena aldeia natal e da casa paterna para aventurar-se na cidade grande. Nela se arranchou em pensões, buscou trabalho, estabilizou-se e constituiu a sua família.

Sei de não poucos amigos cujos filhos empunharam mochilas e partiram para os mais diversificados e distantes continentes.

Apegado? Imaturo? Egoísta? Carente? Saudoso? Não importa de como me definam. Desejaria muito estar próximo, quase ao lado e não nestes mais de uma centena de quilômetros dos meus afetos. Ver meu neto crescer, vê-lo dizer e montar suas primeiras palavras e frases. Contar-lhe histórias, leva-lo nas praças, nos parques, nos circos. Ir às festas de escola e fazê-lo sentir que aqui está um velho avô que muito o quer, que o ama sem medidas, incondicionalmente, como presumo também, acima de tudo, ter desejado meu filho sentir.

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