Mais de 4 mil participantes do Enem tinham acima de 60 anos em 2010
Nélia Albuquerque, moradora do Rio de Janeiro, com seis netos e três bisnetos, foi a participante mais idosa do Enem em 2010. Aos 76 anos, ela decidiu participar da prova por insistência de um dos netos. Parou de estudar ainda na juventude e em 2008 passou a frequentar turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA), onde concluiu o ensino médio. “Eu gosto de estudar, de ler, foi sem pretensão nenhuma. Os dois dias foram extenuantes, terminar as 180 questões não foi fácil, mas respondi tudo e não deixei nada em branco”, conta.
Apesar do resultado satisfatório – ela fez mais de 450 pontos em todas as provas – , Nélia não pretende utilizar a nota para tentar uma vaga em universidade pública ou uma bolsa do Programa Universidade para Todos (ProUni). “Com essa idade não dá mais. Mas foi uma motivação porque a gente estuda, vê coisas novas e não fica só parada dentro de casa”, diz a candidata.
O percentual de participantes do Enem que já deixaram a escola tem crescido a cada edição. Para o Ministério da Educação (MEC), uma das explicações para o aumento desse novo público está na possibilidade de utilizar a nota do exame para conseguir certificação de ensino médio. Desde 2009, adultos acima de 18 anos podem obter o certificado de conclusão mesmo sem ter frequentado a escola regular. Para isso, precisam alcançar um mínimo de 400 pontos em cada prova e 500 na redação.
Cerca de 353 mil participantes declararam na inscrição que fariam o Enem pela certificação. Desse total, 100 mil alcançaram nota mínima – entre eles, 1.112 presidiários. A emissão dos certificados é feita pelas secretarias estaduais de Educação.
Na avaliação do ministro da Educação, Fernando Haddad, o Enem se tornou uma “chave-mestra que abre muitas portas. Além de permitir aos jovens de altíssimo desempenho conquistar uma vaga em um curso de medicina de elevada demanda, o Enem possibilita, com a mesma prova, que uma pessoa humilde com quase 80 anos certifique a conclusão dos estudos e volte a sonhar com perspectivas educacionais”, defendeu Haddad em entrevista à Agência Brasil.
Aos 73 anos, o militar aposentado Roberto do Prado, de Jacareí (SP), quis fazer o Enem para conhecer “aquilo que todo mundo falava”. “Quis saber o padrão em que eu estava de ensino. A prova,na verdade, derruba toda a garotada porque exige cultura geral, uma visão global do Brasil e do mundo. E a pessoa que não gosta de ler está perdida, a garotada normalmente não tem esse hábito”, afirma.
Prado conta que teve um bom desempenho – ainda não conferiu as notas – e começa a pensar em utilizar os resultados do Enem para ingressar em um curso superior. “Mas o interessante do Enem é que ele sirva de padrão para o governo passar a fazer verdadeiro controle e fiscalização de algumas escolas que hoje são só arrecadadoras de dinheiro e não estão preocupadas se o aluno vai aprender ou não. Para mim, o mais importante é isso”.
Segundo Haddad, o MEC vai disponibilizar para as instituições participantes do Programa Universidade para Todos (ProUni) e do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) a lista dos candidatos do Enem que alcançaram nota mínima para certificação. Isso facilita a inscrição do candidato que conseguir uma vaga ou benefício, já que o processo de emissão dos certificados pelas secretarias pode ser demorado.