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A crônica das mortes anunciadas – Sergio Agra

Com o pensamento em Gabriel García Márquez

“Crônica de uma Morte Anunciada”, de Gabriel García Márquez, conta a história do assassinato de Santiago Nasar, um jovem morador de um povoado colombiano. A obra é uma reconstrução jornalística do crime, que se passa em um contexto de fatalidade, destino e absurdo da existência humana.

Publiquei, no dia 24 de dezembro último, no meu perfil do Face book a crônica “O Mistério do Bolo de Natal”, título este alusivo ao livro “A Aventura do Pudim de Natal”, da escritora britânica Aghata Christie.

Se meu prezado leitor e minha generosa leitora não tiveram a oportunidade de lê-la, o façam agora seguindo até aquela data. O título do texto poderia ser o de hoje: “Crônica das Mortes Anunciadas”.

A tragédia, amplamente divulgada pela mídia, reportava-se ao envenenamento de três pessoas da mesma família ao ingerirem um bolo à véspera do Natal. Quem fizera o bolo para aquele que deveria ser um festivo encontro familiar à véspera do Natal foi Zeli dos Anjos, de 60 anos, que ainda se encontra em estado de choque na UTI.

A crônica das mortes anunciadas - Sergio Agra
Bolo que foi servido em Torres.

O instigante é que esta iguaria também havia sido feita por Zeli há cerca de dois meses, e seu marido, falecera vitimado por intoxicação alimentar após ingestão do fatídico bolo, o que não impediu que eu fizesse uma provocação de ter sido “risco (mal) calculado” e de que o detetive belga, Hercule Poirot, seria chamado para deslindar o misterioso “Caso do Bolo da Natal”.

Não foi necessária a presença do famoso detive, eis que o caso teve uma inusitada reviravolta.

Segundo afirmou o delegado responsável, – “Esta é uma investigação difícil pelo fato de a família ter, segundo os depoimentos coletados, uma convivência muito harmoniosa, (…) mas com divergências causadas por Deise Moura dos Anjos, nora da responsável pelo preparo do bolo”.

Conforme apurado pela polícia, Deise é a principal suspeita do crime. Ela tinha desavenças com a família há mais de duas décadas. A mulher se encontra em prisão provisória.

A questão agora é saber se a polícia possui efetivamente provas robustas contra a suspeita. Ela confessará se autora seu crime?

Não, não chamaremos o pequeno Hercule Poirot, e sim Lúcifer*, que arranca em segundos a confissão de quem mesmo nada tem a ver com o Bolo de Natal.

E desde o início da tragédia de Torres eu tive a certeza de que a mesma está incursa no ditames do Art. 121, § 2º, II, III, V e IX do Código Penal Brasileiro.