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“A Grande Beleza”

Em ‘”A Doce Vida” Rubini, interpretado por Marcello Mastroianni, é um jornalista que escreve sobre fatos insignificantes em jornais sensacionalistas. O personagem tem como objetivo torna-se um escritor reconhecido, algo que ele antevê, contudo, intangível.

O que ele cria não lhe convence. O “seu” mundo é vazio e gris numa Roma do pós-guerra. O diretor Fellini, neste filme, mostra toda a sua formidável capacidade ao apontar o contraste do novo que a cidade apresenta, no seu processo de reconstrução e o antigo, através de uma fotografia em branco e preto que consegue ser genialmente contrastante e impactante. Chaplin, Fellini e Bergman são os expoentes na arte em preto e branco.

Depois, em outra fase, utilizando cores, Fellini mantém a sua incomensurável criatividade em “Roma”, “Amarcord” e “La Nave Va”. Mas a magia de “A Doce Vida” – para mim – não foi superada.

Agora, Paolo Sorrentino, jovem diretor italiano, consegue uma tarefa aparentemente instransponível, num filme igualmente magistral, que, aliás, está a concorrer como um dos melhores ao Oscar de 2014: “A Grande Beleza”.

O filme está em cartaz em Porto Alegre. Sorrentino, passado mais de cinquenta anos, consegue se aproximar em beleza e profundidade de “A Doce Vida”. Há quem diga – não sem razão – que “A Grande Beleza” não deixa de ser uma tentativa de continuidade de “A Doce Vida”. A crítica à sociedade, ao comportamento humano, suas contradições dentro desta estrutura a que estamos encapsulados nos leva a reflexões incitantes sob a nossa miserável existência.

Em “A Grande Beleza”, Jap Gambardella, interpretado por Toni Servillo, é um escritor que, aos 65 anos escreveu apenas um livro, cujo conteúdo não o convence, mas, no entanto, não encontra forças para criar algo superior.
 
Sua vida se resume a participar de festas do “high society”, do fausto, do nada, do frívolo, enfim. A vida despejada, o prazer supérfluo não é capaz de alavancar um sentido à sua existência.

Nesta nostalgia “Jap” passa a divagar sobre o seu passado e projetando um inexorável niilismo para o futuro, tendo por pano de fundo a beleza de Roma: o Coliseu, as fontes romanas, tal qual, como aquela vivida por “Marcelo”, em “A Doce Vida”, e exprimir o momento existencial que hoje passa a humanidade, especialmente ao que se convencionou chamar de “Civilização Ocidental”. Assim, como no filme de Fellini Roma é o cenário, mas poderia ser qualquer outra cidade, posto que, em essência, o homem é igual não importando em que hemisfério viva.  

Confesso que fui possuído, em princípio, por certa desconfiança de “A Grande Beleza”, que logo no primeiro minuto do filme se desfez. E recomendo assistir com todas as ênfases para quem fica ou vem nesses dias do sem graça carnaval de Porto Alegre.

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