A Misericórdia tem rosto – Por Dom Jaime Pedro Kohl
A fé cristã não se sustenta em abstrações vagas, nem mesmo por emoções passageiras. O especificamente cristão é o próprio Jesus Cristo. Sempre, e em tudo o que diz respeito à nossa caminhada cristã, é necessário começar e recomeçar a partir de Cristo, reconhecendo que “não se começa a ser cristãopor uma decisão ética ou uma grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva”.
A Igreja tem sempre maior clareza em razão ao seu referencial inspirador de vida e missão. É de Cristo que nasce e germina toda a ação da Igreja. Sendo a misericórdia uma necessária e permanente prática da Igreja, não há como pensá-la e exercê-la, se não tiver um rosto. “Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai…Tal misericórdia tornou-se visível e atingiu seu clímax em Jesus de Nazaré… Quem o vê, vê o Pai”. Com a sua palavra, os seus gestos e toda a sua pessoa, Jesus de Nazaré revela a misericórdia de Deus.
Se quisermos saber o que Deus falou e como falou de misericórdia; se quisermos saber sua prática e suas ações misericordiosas; se quisermos identificar seu coração e ver o seu rosto misericordioso, aproximemo-nos dos Evangelhos. Lá encontraremos o retrato falado, a fonte inspiradora e o Mestre da misericórdia.
Mesmo que as multidões e até mesmo os apóstolos, não conseguissem ver tudo no rosto de Cristo; mesmo que tivessem dele uma opinião parcial de um messianismo distorcido, não há como negar que a multidão carregada de misérias, percebeu no rosto de Cristo o rosto da misericórdia. Diante dele não havia espaço para a neutralidade. A força interior que Jesus comunicava, suscitava encantamento e admiração ou escandalizava a quem esperava da lei a sua justificação.
Por onde Jesus passava, as portas da misericórdia iam se abrindo. Nele sentia-se o Reino chegando, uma nova aurora nascendo e a fonte da vida jorrando. Com a sua força misericordiosa, ele não aliena, não exime a pessoa de sua responsabilidade, mas revela a sua altíssima dignidade.
“Quem deixa Cristo entrar na sua vida, nada perde, nada daquilo que torna a vida livre, bela e grande. Só nesta amizade se abrem as portas da vida. Só nesta amizade se abrem realmente as grandes potencialidades da condição humana. Só nesta amizade experimentamos o que é belo e o que liberta”.
Dom Jaime Pedro Kohl – Bispo de Osório – domjaimep@terra.com.br