A santa inquisição – Jayme José de Oliveira
Ao contrário que, mesmo atualmente muitos têm como verídico, a Igreja não é nem era contra a ciência.
A Igreja era a ciência. Eram os religiosos que detinham o conhecimento formal e, mesmo após o estabelecimento das primeiras universidades no século XI, abrindo o conhecimento aos leigos, os maiores eruditos pertenciam à Igreja.
Santo Tomás de Aquino (1125-1273) e o frade Roger Bacon (1219-1292) retomaram o racionalismo de Aristóteles (384-322 a.C.), pai da filosofia natural.
Monges escribas dedicavam a vida copiando obras, inclusive científicas, a fim de preservá-las. Não fosse essa prática quantas teriam se perdido e quantos prejuízos isso teria acarretado à cultura e à ciência?
Houve confrontos, inúmeros, ao longo da História. O primeiro grande com a ciência foi uma disputa entre o geocentrismo (a Terra como o centro do Universo) defendido pela Igreja e o heliocentrismo (o Sol como centro), por Nicolau Copérnico (1473-1543), apoiado por Galileu Galilei (1564-1642), este referenciado como o “pai da astronomia observacional”.
Usou o telescópio dez anos após sua descoberta pelo holandêsHans Lippershey. Galileu construiu um dez vezes mais potente, possibilitando observações astronômicas de grande precisão.
Ao preconizar o heliocentrismo em contraponto ao geocentrismo defendido pela Igreja, caiu nas malhas da Santa Inquisição e foi considerado culpado de heresia em 21 de janeiro de 1633.
Condenado à prisão indefinida foi mantido em prisão domiciliar até o momento de sua morte em 1642. Esta pena permaneceu vigente até 31 de outubro de 1992 quando o Papa João Paulo II reconheceu o engano cometido pelo Tribunal Eclesiástico, 350 anos após a morte do cientista Galileu Galilei.
Não foi necessária esta absolvição para que recebesse o galardão dos maiores nomes da História, mas corrigiu uma das maiores injustiças cometidas pela Igreja.
A Santa Inquisição foi um grupo de instituições dentro do Sistema Jurídico da Igreja Católica Romana cujo objetivo era combater a heresia, blasfêmia, bruxaria e costumes considerados desvios da Verdadeira Fé.
Ela teve duas versões: a medieval, nos séculos XIII a XIV e a feroz Inquisição Moderna, concentrada em Portugal e na Espanha a partir do século XV.
Após 300 anos de atividade o Tribunal do Santo Ofício foi extinto no dia 31 de março de 1821. No Brasil a Inquisição ocorreu por volta da segunda metadedo século XVIII, nesse período cerca de 500 pessoas foram acusadas.
Cidade do Vaticano, 2 de julho de 2021: O Papa Francisco afirmou nesta sexta-feira que “a ciência é um grande recurso para a construção da paz”, em uma mensagem gravada aos participantes do encontro Ciência para a Paz, cuja realização o Pontífice destacou como “um testemunho de que não pode haver oposição entre a fé e a ciência.
Nunca como neste momento foi necessário um relançamento da pesquisa científica para enfrentar os desafios da sociedade contemporânea”, disse Francisco na mensagem aos participantes do encontro, promovido pela comunidade de Téramo.Téramo é uma comuna italiana da região dos Abruzos, com cerca de 60.000 habitantes. Estende-se por uma área de 151 km².
O Pontífice ressaltou que “a experiência da emergência sanitária tem levado ainda mais, e de alguma forma com mais urgência, o mundo da ciência a repensar a terapia e a organização da saúde”.
Comentário do colunista: Houve a partir do confronto entre as teorias geocêntrica e heliocêntrica uma série de divergências entre Igreja, ciência e Estado que alternaram picos de exacerbação com aproximações. Atualmente, como as palavras de Francisco o demonstram à saciedade, esta aproximação tende a se consolidar para benefício de todos. Não há motivos para cristalizar inevitáveis divergências.
Cumpre um esclarecimento final: a Inquisição, em 1252, pela bula “Ad Extirpanda” do papa Inocêncio IV definiu que a tortura era permitida, a Inquisição, porém, não queimava ninguém na fogueira, sempre terceirizava a morte, enviava o condenado às autoridades com recomendação de execução.
Mesmo séculos após o ocaso da Inquisição ainda restam pessoas que continuam bitoladas. Na década de 1940, com 9 anos de idade, contestei uma afirmação de um professor, irmão marista, no ginásio Santo Antônio, Garibaldi, que afirmou solenemente:
– “Apenas os católicos têm acesso ao céu após a morte. TODOS os demais vão para o inferno ou, no máximo, passam a eternidade no purgatório, que é o lugar das pessoas não batizadas na Igreja”.
– Mas, professor, contestei, e os que nunca tiveram a graça de conhecerem a Igreja Católica, como os indígenas brasileiros, por exemplo? Não tiveram a oportunidade e, portanto, Deus seria injusto ao condená-los.
– Blasfêmia, fora da sala, vá para casa e só volte acompanhado por seu pai.