Da janela do Edifício Dakota - Litoralmania ®
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Da janela do Edifício Dakota

Impossível não esbarrar nalgum brasileiro nas avenidas, lojas ou restaurantes de Manhatthan no mês de dezembro. Somos facilmente notados e identificáveis à distância. Desnecessário explicar o porquê!

Não tive escolha: fora intimado, três semanas antes do Natal, a comparecer à Corte de Nova York para acompanhar o processo de extradição de um cliente. Os trâmites do processo mostraram-se dificultosos, sem falar da arrogância dos funcionários do Cartório. Não vislumbrava a certeza de poder voltar para o Brasil para as festas de fim de ano.

Por isso, dei-me por feliz em conseguir hospedagem no Southgate Tower, um simpático e acolhedor hotel, no 371, da Sétima Avenida, próximo ao Madison Square Garden, e ingressos para Miss Saigon, no Broadway Theatre, A Bela e a Fera, no The Palace Theatre, e O Fantasma da Ópera, no Majestic Theatre, musicais então em cartaz nos teatros da Broadway.

Para preencher o tempo ocioso, aos finais de tarde munia-me do iPod e, vestindo um pesado abrigo esportivo, empreendia longas caminhadas no entorno do Central Park. Cantarolava a letra da música que me chegava através dos headphones…

…“So this is christmas
And what have you done
Another year over
And new one just begun.
And so this is Christmas…”

…e, através dela, num só fôlego, viajei por todos os parques, cidades e aldeias do Universo… Sequer senti o ardor que me rasgava o peito. As pessoas – que estranheza! – me saudavam e me presenteavam com sorrisos, alheias, no entanto ao meu sofrer. Extremamente ofegante, atravessei a Oitava Avenida e, na 72 Street, entrei no Edifício Dakota.

 Abri a porta do apartamento. Na penumbra tropecei na guitarra jogada sobre o carpete.

Num supremo esforço, mantive o equilíbrio e consegui chegar à janela. Por entre as vidraças, vislumbrei a calçada do Central Park banhada pela derradeira luz do crepúsculo. Dali, Yoko Ono me acenava, sem saber o que havia acontecido.

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