Devaneios
Mas que mês ! Já vai tarde, eu diria! Acumulamos uma queda de 8,27% na bolsa. Não foi fácil a vida do investidor. Uma série de notícias e eventos geraram muita volatilidade. Dizem que maio é o mês das noivas, mas ao menos sob o prisma dos investimentos, este poderia ser designado o mês da “noiva cadáver”, numa alusão ao filme de animação do premiado diretor Tim Burton.
O leitor que acompanha esta coluna deve ter percebido o nível de devaneios presente nela. Pode até parecer obra de ficção, mas de fato a ficção imita a realidade. Esses devaneios a que me refiro nada mais são do que o reflexo da própria realidade. Ao longo das últimas semanas tivemos diversos fatores que atrapalharam o desempenho dos mercados. A epopeia grega foi o estopim inicial. Tivemos temores quanto à solução da situação grega, enquanto o país estava a beira de uma guerra civil; tivemos um “bolsa-dívida”do FMI e do Banco Central europeu para ajuda os países endividados; vulcão em erupção na Islândia; terremoto no Chile; enfim, já teria sido bastante coisa. Calma, ainda tem mais.
Nos EUA tivemos um dia de total pânico quando a bolsa chegou a cair mais de 9% graças a um dedo gordo! Como assim dedo gordo? Isso mesmo, dedo gordo. Teoricamente um operador teria errado na digitação de uma ordem e teria trazido pânico ao mercado. Tivemos ainda outra suspeita de tentativa de ataque terrorista em Nova Iorque; agravamento dos problemas fiscais na Europa; fusão entre bancos espanhóis tentando se sustentar em meio a uma situação de dificuldades; anúncios de cortes de gastos na Itália, Espanha e Inglaterra. Quanta coisa, não é mesmo?
Mas faltou a última pérola (sem nenhuma conotação positiva a isso). Esta semana o mercado se amendrontou com a possibilidade de uma guerra entre as Coreias. Motivo? A Coreia do Norte acusa a Coreia do Sul de ter ultrapassado fronteiras marítimas. A Coreia do Sul nega e acusa a do Norte de ter afundado um navio sul-coreano em março. A Coreia do Norte nega. Analisando os fatos, acredito ser muito difícil que, de fato, venha ocorrer uma guerra. Isso porque, historicamente, guerras acontecem muito em função de questões econômicas. Nesse caso das Coréias, temos dois padrinhos nada interessados em que isso venha a ocorrer. De um lado os EUA, importantes parceiros comerciais da Coreia do Sul. De outro, a China, importante parceiro da Coreia do Norte. Como China e EUA também têm fortes relações comerciais não acredito que esses gigantes deixem isso ocorrer com seus apadrinhados.
Conforme comentei na última semana, “tudo pode dar certo”. Após tantas notícias, das mais esdrúxulas que tivemos, muitos gestores e analistas concluem que essa queda tem deixado o investimento em bolsa ainda mais atrativo. Esta semana a China afirmou que não se preocupa com suas posições de investimentos na Europa no longo prazo, tivemos melhora das estimativas do crescimento econômico global feitas pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e, aqui no Brasil, tivemos o IBGE revelando que a taxa de desemprego no país atingiu o menor resultado para o mês de abril dentro da série histórica, iniciada em março de 2002.
Não estou dizendo que você deve investir tudo que tem em bolsa porque esta já caiu tudo o que tinha para cair. Só gostaria de chamar atenção, pois, agora, talvez o mercado olhe mais os fundamentos e deixe de ser levados por devaneios.