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Eleições 2010 II

jornais - foto tiago trespach

Encerrado o pleito uns festejam outros choram. É normal. Faz parte da democracia e aqueles que acham isso estranho não deveriam viver em uma democracia. É bem verdade que há aqueles que comemoram a vitória como se fosse um Grenal. Não sou daqueles que pensa assim. Numa eleição todos deveríamos vencer, afinal o objetivo é o “bem geral da nação”.

Venceu a situação, venceu quem está com a máquina pública na mão, venceu a primeira mulher a presidir o país em mais de 120 anos de república. Isso é uma conquista? o tempo dirá, mas espero que sim, ao menos as mulheres têm menos tendência a corrupção do que os homens. Já vão longe os tempos em que elas eram relegadas a ser dona de casa, do fogão e da cama. Até no vestiário masculino dos estádios de futebol elas já entraram. A verdade é que elas tem-se dado bem em todo lugar, diga-se de passagem.

Acredito sinceramente que o Brasil se não chegou, está chegando, à maturidade democrática. Nosso sistema eleitoral é prova disso. Temos um sistema seguro, claro, ágil. Resta-nos ainda aperfeiçoar os elegíveis. Isso é bem mais difícil, é claro. Passa pelo primeiro agente ativo do processo, o povo. Temos a discutir ainda a questão da proporcionalidade – que faz com que candidato com menor número de votos se eleja em detrimento de outros com maior número, de acordo como a legenda – e o nível de instrução dos candidatos, que permitiu casos como o de Tiririca.

É complicado eu sei. Há quem diga que há muita gente que luta e representa suas comunidades, são representantes do povo, cheios de boas intenções. Ora, as boas intenções enchem o inferno. É inconcebível, a meu ver, tornar elegível alguém sem o mínimo de condição para tal. A Assembleia, a Câmara, o Senado não são lugares de gente pouco instruída. Se fulano de tal deseja representar sua comunidade, pois bem, vá até uma escola e estude. Qualquer concurso público exige isso, porque então não se exigir dos nossos legisladores, responsáveis pela criação de nossas leis, algo mais do que saber ler e escrever? Assistencialismo ou trabalho comunitário não é legislar. São coisas distintas. Isso precisa ser modificado.

O que mais me preocupa neste campo, no entanto, são as ideologias. É um terreno perigoso. Quer ver um exemplo: o Deputado Federal Ronaldo Zulke (PT-RS) escreveu um artigo para a Zero Hora dois dias após as eleições (02.11.2010), em que comparava o governo Lula ao de Franklin Delano Roosevelt. Eu não sei de onde Zulke tirou a ideia de que o plano milagroso norte-americano da década de 1930, o New Deal, que salvou os EUA do desastre total na Grande Depressão causada pela crise de 1929 e o elevou a categoria de grande potência – aumentada após a Segunda Guerra – lembra o plano de governo Lula ou mesmo que Lula tenha sido o idealizador desse plano.

Se há algum plano que se assemelhe aquele, e com ressalvas já que as medidas eram ligadas a estabilização monetária, é o Plano Real, elaborado por Fernando H. Cardoso ainda antes de assumir a presidência, e que tirou o Brasil de uma inflação astronômica para levá-lo aos níveis que se encontra hoje permitindo o crescimento do país desde então. Ai sim, estabilizada a economia, o desenvolvimento do país não deixa de lembrar a época do crescimento econômico norte-americano.

Cheguei mesmo a ouvir aqui e ali de alguns petistas mais ferrenhos de que Roosevelt era um homem de pouca instrução como Lula. Meu Deus o que é isso! A glamorização da idiotice? É dessa política ideologicamente radical a ponto de distorcer a história e eventos à maneira que lhes convém que me preocupa, e muito. Somos seres políticos, participamos de uma democracia, não podemos, ou não deveríamos, alicerçar nossas conquistas dentro do campo político-partidário de forma rançosa, revanchista e atrasada.

Igualmente preocupantes são as referências usadas. Cuba, China, Venezuela. Até mesmo a antiga União Soviética. Nas salas de aula da faculdade, principalmente nas áreas de ciências humanas tornou-se modismo falar em socialismo e Cuba. Questionados sobre o que sabem ou já leram sobre Marx a maioria limita-se a dizer que leu o “Manifesto Comunista”, um grão de areia na imensa obra do pensador alemão. É a superficialidade capitalista no meio comunista!

Ainda lembrando-se das distorções históricas, o governo de Lula conseguiu em oitos anos deturpar parte da história recente do país. Esqueceu-se que o crescimento econômico brasileiro deve-se muito ao Plano Real, plano que o PT foi contra. No domingo, durante as eleições, em programa de rádio, em Osório, enquanto um grupo de políticos debatia sobre a política nacional questionei os mesmos (via MSN, é a modernidade) se não deveríamos modificar algumas leis exigindo, por exemplo, que nossos políticos fossem mais bem instruídos. O representante petista disse que para que isso mudasse primeiro deveríamos alterar a Constituição. Ora, ora, então que se mude, o PT foi contra a Constituição de 1988 mesmo. Sem falar que ela foi desrespeitada algumas vezes durante os últimos anos.

Mas guardando as querelas políticas, desejo realmente que a nova presidente, a primeira mulher a sentar na cadeira mais importante do país, consiga cumprir o prometido em campanha e leve nosso país ao lugar que esperamos ocupar, de nação de primeiro mundo, verdadeiramente livre da miséria, da falta de educação e dos problemas que nós todos conhecemos.

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