Farc e governo começam novo ciclo de negociação
As Farc não aceitam a proposta por considerar que o governo agiu de maneira “unilateral” ao apresentar um projeto de lei ao Congresso do país, sem conversar com a guerrilha sobre o assunto. E, se de um lado, as Farc rejeitam o referendo, do outro, o governo também não aceita a proposta de convocação de uma Assembleia Constituinte, defendida diversas vezes pela guerrilha. Os negociadores do governo dizem que o tema não será discutido por não “fazer parte” da agenda predefinida, antes do início das negociações.
Mesmo assim, o negociador-chefe das Farc em Havana, Iván Márquez, disse na semana passada que não desistiu da proposta da assembleia e que insistirá no tema. “Há espaço para discutirmos isso mais adiante, quando estivemos tratando do sexto ponto que é a garantia para o cumprimento dos acordos que estão sendo celebrados”, explicou à imprensa em Cuba.
Durante o recesso de conversações, prazo em que os negociadores discutem os temas em separado, o chefe máximo das Farc, Rodrigo Londoño, o Timochenko, enviou uma carta ao presidente Juan Manuel Santos, em que o acusava de estar com “muito discurso e pouca ação”. Timochenko disse, inclusive, que revelaria o conteúdo que está sendo negociado para “esclarecer a verdade ao povo colombiano”.
Com a ameaça, o governo reagiu e disse que a atitude poderia comprometer a confidencialidade da negociação. Dois dias depois, Timochenko enviou um novo comunicado dizendo que não revelaria o conteúdo e, em tom mais ameno, chegou a elogiar o governo Santos.
As Farc atuam desde 1964 na Colômbia e são consideradas uma das guerrilhas mais antigas do mundo. As negociações de paz em Havana são a quarta tentativa da Colômbia de chegar a uma solução pacífica para o conflito. O atual processo de paz foi anunciado em outubro do ano passado e começou em novembro. Antes de chegar aos diálogos, negociadores do governo e das Farc tiveram conversas “secretas” em que foram definidos os pontos da agenda em negociação.
Já houve acordo, para o primeiro assunto da agenda: o desenvolvimento agrário. Desde maio, os negociadores discutem o segundo item – a participação política. Mas ainda faltam quatro temas: reparação de vítimas; soluções para o problema do narcotráfico; desarmamento e desmobilização e mecanismos para garantir o cumprimento dos acordos celebrados.