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Fazer o bem sem ostentação

“Bem-aventurados• os pobres de espírito, pois deles é o reino dos Céus.” Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap 7 (Mateus, 5:3) Jesus não está referindo-se ao incapaz, ao inepto ou ao simplório quando proferiu estes ensinamentos. Ele refere-se aos simples de coração, aos humildes. Para se conquistar a humildade e a simplicidade, precisamos, ainda que pareça paradoxal, perdermos algo que caracteriza nosso primitivismo espiritual: o orgulho. Fruto da ignorância e da efetiva inconsciência do Divino, o orgulho, filho do egoísmo, turva a visão de quem ainda o possui.

O orgulhoso valoriza a si mesmo acima de tudo. Quando providos de conquistas intelectuais, embriagam-se nas certezas científicas que conseguem dominar, refratando suas percepções da espiritualidade e até de Deus. Nesse contexto o orgulhoso, tendo sua atenção e energia voltadas prioritariamente para satisfazer-se pessoalmente, descura da vida em sociedade no sentido de ser útil e fraterno. Diz-nos Jesus, ainda no Capítulo 7: “Será maior no reino dos Céus aquele que se humilhar e se fizer pequeno como uma criança”, ou seja, que não tiver nenhuma pretensão de superioridade ou de ser infalível. Humilhar não significa ter atitude subserviente ou fraquejar perante os embates da vida, mas sim buscar a valorização das atitudes e atenção para com as necessidades alheias, colocando-se em segundo plano.

A humildade é uma virtude que, como todas as outras, exige esforço permanente. A humildade iguala os homens; mostra-lhes que são irmãos, que devem se ajudar mutuamente, e os conduz ao bem. É na caridade que uma atitude humilde vai santificar um ato de amor, cujos efeitos benéficos serão mútuos, ao que faz e ao que recebe. Aí é que está a oportunidade de exercitar e aprimorar esta virtude que adocica nosso espírito, alimentando a fé com a seiva do amor. “Fazer o bem sem ostentação é sinal indiscutível de uma grande superioridade moral porque, para compreender além da vulgaridade comum as coisas do mundo, é preciso elevar-se acima da vida presente e se identificar com a vida futura.”

A compreensão do ato caridoso deve estar em nós, para que a motivação parta do valor inconteste por nós atribuído, e cujos efeitos positivos que advirem desse gesto não estejam em nossa agenda de “ganhos” futuros. Se Deus vai nos alcançar alguma coisa agora ou mais adiante, devemos deixar a Ele este julgamento, porfiando apenas no trabalho de distribuir a luz que pudermos. E se bem prestarmos a atenção, a recompensa já vem imediata, quando nosso coração exulta ao fazermos uma criança sorrir, ao enxugarmos as lágrimas de um sofredor, ao orientarmos alguém em conflito consigo mesmo.

Quando conseguimos demonstrar a alguém um outro caminho, de consolo e esperança, ou quando amparamos outrem a aceitar uma condição atroz de vida, no entendimento de que isto tem um fim útil ao espírito, nossa primeira e mais importante recompensa é a paz de consciência. Nossa postura ao fazermos o bem deve ser despretensiosa, sem juízo de valor para o atendido. Muitas vezes nos deparamos com grandes esforços para atender alguém, quando percebemos que este pouco ou nenhum valor deu. Ele o dará no devido tempo. Por outras vezes, pequenos gestos que “não nos custaram nada”, tiveram grandes efeitos nos que a ele deram valor e souberam aproveitar.

A satisfação é mútua e imediata. Há ainda os infortúnios ocultos, os quais nos cabe perceber e ofertar ajuda a irmãos que por extrema humildade não se achem merecedores de pedir, ou para outros que, orgulhosos, estendem seu sofrimento no silêncio da dor. Fujamos quando possível dos obrigados, das adulações espontâneas que por vezes algum irmão nos enderece em seu afã de satisfação. Se porventura exigimos de alguém o reconhecimento de um ato caridoso, já estaremos invalidando este pois submetemos o assistido a uma humilhação que pode ser agravada se sua conduta guarda orgulho contrariado sob o véu do sofrimento.

“O sublime da verdadeira generosidade é quando o benfeitor, invertendo os papéis, encontra um meio de parecer ser ele próprio o beneficiado frente àquele a quem presta um favor.” Façamos o bem sem ostentação, ficando nos bastidores da história como espectadores de um filme que não produzimos. Muitas maneiras de fazer o bem: doação material, doação moral, amparar quem ampara outros, e se ainda assim não tivermos condições de nada disso, façamos uma prece, cujos ouvintes sejamos nós e Deus.

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