Fórum Regional do Mar encerra apontando caminhos para a preservação ambiental
O terceiro e último dia do Fórum iniciou com a apresentação da palestra Condrícties do Sul do Brasil, realizado pelo coordenador do curso de Biologia da ULBRA Torres, Walter Nisa Castro Neto. Neto apresentou as características do litoral do sul do país, os grupos de tubarões e arraias que habitam esta região. “Espécies que víamos aos milhares nos anos 60 e 70 foram dizimadas com a expansão da pesca industrial, ao ponto de levarmos quase dois anos para registrarmos um único animal de determinada espécie. As pessoas precisam ter consciência que é necessário preservar para manter o equilíbrio do meio ambiente”, destacou Walter.
Logos após, foi apresentado o monitoramento de baleias Jubart na costa brasileira: pesquisa, conservação e educação ambiental, com Márcia Engel, integrante do projeto Baleia Jubarte. A palestrante destacou que diversas praias badaladas do Brasil já foram pontos de cassada destes animais, que hoje são poucos e precisam ser preservados.
O workshop Praias Limpas, mediado por Dóra Laidens, trouxe dados alarmantes. A doutora Temis Limberger, representante do MPE-RS, destacou a importância de ações que reduzam a poluição ambiental. “A maior parte dos sacos plásticos utilizados no Brasil vem dos supermercados. O descarte incorreto destes sacos acarreta em diversos problemas ambientais, principalmente com os animais que acabam engolindo ao se confundirem com alimentos. Outro dado interessante é que 72% das casas no país possuem DVD`s, mas apenas 59% destas casas estão ligas as redes de esgotos. É preciso tratar os resíduos para se ter qualidade de vida antes de se pensar no consumismo”, finalizou Temis.
O professor da ULBRA Torres, José Alberto Chenin, destacou em sua apresentação que não existe qualidade de produto turístico sem haver qualidade do meio ambiente. Chenin apresentou seu trabalho na área do Turismo Ecológico e Gestão Ambiental, diagnóstico ambiental, programa de gestão e zoneamento de espaços naturais. “Não queremos que Torres tenha edifícios com muitos andares, como vimos em outras praias, isto destrói nosso meio ambiente. O turismo às vezes é apenas cortina de fumaça para a exploração imobiliária. O litoral não é mais uma cidadezinha, é uma grande área urbana”, declarou. Ainda durante o debate, o professor destacou que a sacola plástica está sendo utilizada como bode expiatório para que problemas sociais muito maiores não sejam resolvidos.
Cristiane Weissheimer, representante da FEPAM/DISA, apresentou a estrutura do órgão para a regional. “O litoral é frágil e suscetível, necessitando de intervenções para que possa ser preservado. O foco praia limpa é muito complexo e possibilita muito debate. Outra observação é que os diferentes órgãos que buscam a preservação precisam trabalhar integrados, evitando assim a sobreposição”.
O major João José Corrêa da Silva, representando o 1º Batalhão Ambiental destacou que 51,40% da população do Estado é atendida por seu batalhão. “Nosso trabalho de policiamento ambiental é realizado diariamente com muito empenho, buscando a preservação do meio ambiente. Trabalhamos em diversas frentes, preservando animais e também buscando a preservação de vidas. Estamos ajudando na conciliação entre pescadores e surfistas. Também realizamos ações para coibir a pesca de arrasto”, finalizou.
A representante da Sea Shepherd núcleo RS, Katia Souto, destacou que a intenção do grupo é salvar os oceanos. “Não falamos que vamos tentar salvar, nós vamos. Nosso objetivo é buscar a preservação ambiental através de ações práticas. A praia do Rio Grande do Sul mais degradada é Cidreira, precisamos do apoio de todos, inclusive do governo, para mudar este quadro. Xangri-lá é a mais limpa. Ouço falar da importância do saneamento básico desde que nasci, mas é preciso implementar ações práticas, as pessoas precisa aprender a colocar o lixo nas lixeiras, que devem ser limpas regularmente. As praias abaixo de Cidreira no mapa do Estado estão abandonadas, acompanhamos o trabalho da Brigada e sabemos do empenho deles, mas falta estrutura”, comentou.
A água doce também foi contemplada no debate. Evandro Ricardo da Costa Colaresi, representante do DMAE de Porto Alegre, destacou que é fundamental gerenciar os recursos hídricos e bacias hidrográficas. “A busca pela melhoria da saúde e da qualidade de vida implica em investimento no gerenciamento de recursos hídricos”, apontou.
Ana Luisa Tartaroti, representando a SES/CEVS, debateu sobre a presença de cães na beira da praia. “Estes animais trazem problemas que podem causar diversos transtornos para a saúde humana e do próprio animal. É possível que o animal tenha queimaduras solares, desidratação, otites, dermatites, conjuntivites, dentre muitas outras. Será que não é nossa vaidade levar o cão para a beira da praia? É preciso levar?”, indagou.
O capitão de fragata da Marinha do Brasil, 5º Distrito Naval, Walter Shinzato, apresentou um pouco do que a Marinha realiza. “Inspecionamos as embarcações e auxiliamos diferentes órgãos na fiscalização de atividades desenvolvidas nas águas. Mesmo não sendo nossa competência, buscamos apoiar ações de preservação relativas à formação de parques. Também podermos trabalhar junto das prefeituras e entidades para cobrar e implementar os planos de gerenciamento costeiro, principalmente com o setor imobiliário. Nós administramos os chamados terrenos da Marinha, que mesmo com este nome não são propriedade da Marinha”, comentou.
Paulo Germano, engenheiro da Corsan, falou a respeito da bacia hidrográfica dos rios Tramandaí e Mampituba. “A partir de 2009 tivemos um aumento de investimentos. É importante haver uma gestão adequada dos recursos hídricos, passando pelo saneamento e preservação dos mananciais de águas”.
É consenso entre todos os participantes que é necessário integrar os diversos órgãos envolvidos na preservação do meio ambiente, assim como na fiscalização. As soluções para os problemas e a busca por melhorias passam também por uma maior interação entre a população e os órgãos públicos.
O coordenador da Defesa Civil de Torres, Marcos Paulo Klassen, parabenizou a iniciativa de realização do Fórum. “Através deste evento podemos dizer que tivemos um ponta pé inicial para pensarmos e acima de tudo agir para a preservação ambiental. Gostei dos temas abordados, ficou claro que precisamos plantar agora para colher no futuro. Aposto que a mudança de postura da nossa sociedade passa pelas crianças, através da educação. Precisamos também do apoio da mídia e o engajamento da população”, avaliou.
Já o secretário de Meio Ambiente de Torres, Gustavo Canella, aponta que o Fórum superou as expectativas. “Estamos muito feliz pelo resultado deste evento. Foi um verdadeiro investimento para nosso município, porque conseguimos identificar problemas, causas e soluções. Também teremos muito mais embasamento para a tomada de decisões relacionadas ao meio ambiente. Agradeço a cada um dos participantes, principalmente os da nossa cidade que vieram, e isto irá contribuir para a construção de uma cidade mais forte e que preserva o ambiente costeiro. Outro ponto que tenho de destacar é que os debates ratificaram nossa posição, que aponta a exploração desordenada como a principal causa da perda da biodiversidade”.
Para o professor da UFRJ, Paulo Hargreaves, o evento é inovador. “Conseguimos desenvolver o Fórum de maneira natural, sem seguir nenhuma bandeira, pensando no desenvolvimento e sustentabilidade. Ficou claro que é preciso recuperar áreas e criar oportunidades para o turismo. Minha fala foi voltada para os estudantes, pois trabalho sempre com alunos. Costumo trabalhar e pesquisar sempre com estudantes juntos, pois aprendo com eles. As soluções para os problemas costeiros passam pelas novas gerações”, ponderou.
Entidades de diferentes ramos de atividade trabalharam juntas para que o Fórum Regional do Mar se tornasse um marco na história. A realização foi da Prefeitura Municipal de Torres, enquanto a organização ficou a cargo da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Torres Natural, curso de Ciências Biológicas da ULBRA Torres e da Associação dos Surfistas de Torres (AST); o patrocínio foi da Cadiz – A vida em construção, Corsan e Governo do Estado do Rio Grande do Sul.
O apoio foi viabilizado pelo Batalhão Ambiental da Brigada Militar, Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Tramandaí, Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM) através da Divisão de Saneamento – FEPAM/DISA, Gerenciamento Costeiro (GERCO) e do Museu de Ciências Naturais – FZB/MCN, Grupo de Mamíferos Marinhos do Rio Grande do Sul (GEMARS), Marinha do Brasil, Ministério do Meio Ambiente (MMA), Ministério Público Estadual/Projeto Ressanear – MPE, Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental (NEMA/Rio Grande), Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Projeto Baleia Franca, Projeto Baleia Jubarte, Sea Shepherd/Núcleo RS, Secretaria Estadual de Saúde/Centro Estadual de Vigilância em Saúde (SES/CEVS), Secretaria Estadual do Meio Ambiente/Parque Estadual de Itapeva (SEMA/DEFAP/PEVA), Prefeitura de Porto Alegre/Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE), Secretaria Municipal de Turismo, Comércio e Indústria de Torres (SMTCI), Secretaria Municipal de Saúde de Torres (SMS), Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e da Universidade de Luterana do Brasil (ULBRA).